sábado, 12 de março de 2011

Escola Global

 

GILBERTO DIMENSTEIN
A escola mais global do mundo

JÁ IMAGINOU passar todos os três anos do ensino médio viajando pelo mundo, que seria transformado numa sala de aula, e, para completar, receber um diploma aceito pelas melhores universidades?
Suponha que, em cada cidade, você seja recebido por professores capazes de converter o que seria dado em sala de aula numa experiência. Por exemplo, aprender noções de biologia numa praia da Austrália, questões indígenas numa tribo do Equador, diversidade cultural na China ou tecnologia da informação em Bangalore, na Índia.
É exatamente esse o projeto sem fins lucrativos que começa a ser implantado nos Estados Unidos. Chamado de Think Global School, é uma escola que não tem sede. O mundo é literalmente sua sala de aula.

A primeira turma é composta de 16 estudantes de 11 países, cujo roteiro acadêmico prevê a visita a lugares como Estocolmo, Sidney, Hong Kong, Berlim, Bangalore e Cuenca (no Equador). "Montamos o roteiro para revelar a diversidade", disse-me Brad Ovenell-Carter, diretor da escola e professor de literatura mundial. Neste momento, ele está na Austrália.

O currículo é dividido em oito matérias: artes, literatura mundial, antropologia, estudos globais (história e geografia), matemática e ciências, além de duas línguas. As aulas são ministradas em inglês, mas, ao final dos três anos, os alunos devem falar espanhol e mandarim.
As aulas expositivas são mescladas com palestras de personalidades locais e visitas a vários pontos do país. O currículo é subordinado a pesquisas e a experimentações realizadas pelos alunos, na maior parte das vezes, fora da sala de aula.

A preocupação central não é obter uma nota, mas desenvolver a capacidade de se entregar à aventura do conhecimento. "Vamos, porém, prepará-los para fazer os testes de ingresso nas melhores universidades", conta Brad. O que já dá para perceber, segundo ele, é o amadurecimento dos estudantes. "Embora tenham 15 anos, eles parecem ter 18 ou 19 anos."

"Quero muito saber em que vai dar", disse-me a diretora do Projeto Zero, da Faculdade de Educação de Harvard, cujo objetivo é pesquisar e desenvolver novos meios de ensinar. O Projeto Zero foi fundado pelo psicólogo Howard Gardner, criador da teoria das inteligências múltiplas, para quem os seres humanos têm várias modalidades de QI e os educadores deveriam saber lidar com essa complexidade.
Desse programa saiu o João Kulcsar, que hoje, no Senac, ensina cegos a serem fotógrafos, numa das experiências mais belas que eu já vi em educação.

Feitos para refletir e compartilhar os aprendizados, os blogs dos alunos e dos professores parecem diários de viagem escritos durante as férias. A felicidade dos filhos não custa barato para os pais.
A mensalidade fica pelo equivalente a R$ 12 mil, cerca de cinco vezes o que se paga numa escola de elite em cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo.
É mais que o dobro do que se paga aqui em Harvard. Pode ser muito dinheiro, mas a verdade é que não é caro. É até muito barato para o que a Think Global oferece.

Isso significa, entretanto, que essa ideia não é replicável nem no Alto de Pinheiros, em São Paulo, nem em Ipanema, no Rio de Janeiro, afinal, esse é o ensino médio mais caro de que se tem notícia.

Replicável seria usar não o mundo, mas a cidade como sala de aula. É simples, barato e eficiente.

PS- Fiz uma seleção das fotos dos alunos cegos que estudam no Senac (www.catracalivre.com.br). Coloquei também os blogs dos alunos da escola móvel e os links para o Projeto Zero. Aliás, está também o projeto da wikiuniversidade.
gdimen@uol.com.br

Fonte: São Paulo, domingo, 06 de março de 2011

2 comentários:

Anônimo disse...

Delma
Ideia interessante e cara!Vale lembrar quantas coisas boas aprendemos com a nossa guia nas viagens culturais a São Paulo,percorrendo por vários lugares a um preço bem razoável.
Bjs
Regina Bernardes

Delma disse...

Regina
Ja imaginou se nos pudessemos proporcionar um curso desses para nossos netos?
Bjs