terça-feira, 15 de março de 2011

DOIS FILHOS EM UM - Lea T

Lea T, é uma estilista e modelo transexual brasileira, que ganhou fama na Europa como uma das estrelas de uma campanha da grife francesa Givenchy.

Toninho Cerezo, pai de Lea, escreveu uma carta para ela, publicada na revista LOLA do mes de março. Abaixo trechos da carta.

“Qual pai um dia não pensou desta maneira? Como seria bom se existisse um manual completo, que ensinasse e orientasse como ser pai em todas as etapas da vida dos filhos?
Por mais que existam livros, manuais, conselhos bem-intencionados, a grande verdade é que exercer a paternidade vai muito além de conselhos e teorias. Todos sabem que cabe à paternidade uma parcela da responsabilidade de cuidar, educar, proteger e preparar os filhos para o ingresso na sociedade.
Mas a alma humana é muito complexa, e estamos bem longe de saber tudo o que esse ser mutante chamado Homem é capaz de fazer, querer e ser…
Meu menino, minha menina pra sempre, eternamente, os dois serão meus.
Ainda no ventre, Leandro foi um filho esperado e amado. Na sua infância, seu sorriso doce e os cabelos cacheados não me indicavam qualquer tendência, era apenas uma criança, era apenas meu filho.
Com o passar dos anos e a chegada da adolescência, conheci, na intimidade e nos momentos que passamos juntos, seu jeito diferente – a clara ausência de predileção por brincadeiras masculinas. Percebi interesse por assuntos ligados à arte e ao universo feminino (…)
Apesar de notar as diferenças, percebi também que nada poderia fazer, e tudo o que poderia dar a ela/ele era o meu amor incondicional, a segurança, o conforto e a certeza de que, em qualquer circunstância, por mais que longe, eu estaria sempre a seu lado (…)
Pode ser que eu tenha sido negligente como pai, mas não há motivos para frustrações. Não podemos ser bons em tudo. E você, Lea T. Cerezo, sabe muito mais que embaixadinhas. Teve coragem de, elegantemente, tentar quebrar paradigmas e mostrar ao mundo que devemos aceitar, sim, as diferenças, ser tolerantes com a diversidade, entender e não julgar aquilo que não conhecemos. O caminho pode ser longo, mas com certeza não será o mesmo depois de você (…)
Como diria o poeta Cazuza, “O tempo não para, não para, não, não para”, e filho crescido não cabe mais aos pais educar. Sendo assim, aqui ou lá, torço por você, Lea.
Menino ou menina, Leandro ou Lea, não importa mais, sempre serei seu pai e você, orgulhosamente, um pedaço de mim.”

Fonte: Lea T

2 comentários:

Anônimo disse...

A carta do Cerezo emociona, desde que seja sincera, porque já li que ele nem citava o Leandro-Lea como filho.
Laís

Delma disse...

Só a Lea pra contar sobre esta relação. Mas escrever a carta já foi um ato de aceitação e dignidade né?
Bjs