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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Basta Tirar os Sapatos–Michael Keep

MICHAEL KEPP mkepp@terra.com.br
Basta tirar os sapatos

 

"GENTE INTERESSANTE" não é um clube exclusivo.
Qualquer um pode entrar, porque todos são interessantes para alguém. O grau de interesse depende do que a pessoa revela de si, e não do quanto ela mostra. Não precisa fazer um striptease. Basta tirar os sapatos e esperar os resultados.
Sim, tirar os sapatos traz riscos: chama a atenção para os buracos nas nossas meias.
Mas ser vulnerável humaniza e pode convencer o outro a também tirar os sapatos. A maioria precisa de um empurrãozinho para fazer isso.
Nas festas, uso álcool. Nas minhas crônicas, tiro bem mais do que os sapatos, porque o público está distante e normalmente é simpático.
Por isso, aos leitores já revelei minha transa com uma prostituta, a vez que botei no jornal um classificado amoroso, minhas dificuldades de lidar com a adolescência dos meus enteados, meu derrame e alguns dos meus defeitos (mas não os piores). Eu já escrevi até sobre meu pelo corporal. Mas, mesmo assim, eu nunca tiro tudo.
Todas essas confissões têm o propósito de provocar alguma reação: risos, lágrimas, raiva ou reflexão. Enfim, comover aqueles que conseguem se identificar comigo e se sentir menos alienados, menos solitários. Às vezes, essa cumplicidade se confirma em um e-mail que diz: "Sua crônica expressou algo que sempre senti e queria dizer, mas nunca consegui"."
Há pouco tempo, eu contei a um amigo que, durante uma viagem recente à minha cidade natal, visitei, pela primeira vez, o túmulo da minha mãe, que morreu quando eu tinha dez anos. E quando vi a lápide me emocionei tanto que a abracei como se fosse seu corpo. Daí ele me contou que há dois anos, no Peru, ele visitou a montanha onde ocorreu o acidente aéreo que matou seus pais quando ele tinha 13 anos. Quando viu uma cruz enorme fincada no lugar do desastre, ele se debruçou no solo diante dela e abriu os braços para dar nos seus pais o mesmo abraço simbólico que dei em minha mãe. Foi uma das raras vezes que ele se abriu comigo.
Ele tirou os sapatos porque eu tirei também. E quando duas pessoas começam a se expor, ambas ficam mais interessantes.
Uma pessoa pode ser interessante antes de abrir a boca. Pode ser também que ela nunca tire os sapatos e só revele que prefere se esconder.
Mas quem não corre o risco de se expor também paga um preço. Afinal, uma pérola só tem valor fora da ostra.  Kepp


MICHAEL KEPP, jornalista norte-americano radicado há 27 anos no Brasil, é autor do livro de crônicas "Sonhando com Sotaque - Confissões e Desabafos de um Gringo Brasileiro" (ed. Record)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O que aprendemos até agora–Affonso Romano de Sant’Anna

 

Amigas reunidas no Vitório’s Point 24/11/2010

"A vida vai nos levando e, às vezes, a gente pára e se pergunta: "Mas o que foi que aprendi de essencial até agora?"Essas rugas, esses cabelos brancos, esses filhos, esses netos, todos esses corpos, casas e países habitados, todos os jornais e livros que lemos ( ou que nos leram), os animais que tivemos, tudo o que nos exibiram nos museus do espanto, enfim, tanta alegria e perplexidade, tudo isto, para quê?…

…Aprende-se com isto que o amadurecimento tem o som, o ritmo do adágio. Para trás vai ficando o saltitante "allegro vivace", chega um tempo em que assumimos o ritmo do discreto outono. E a nossa figura incorpora aquilo que se chama a pátina do tempo. Aprende-se que as amizades são delicadas. São muito delicadas as amizades, e muitas podem se romper ao mínimo descuido, e cultivá-las está entre a arte do ikebana e a arte da porcelana…

…Aprende-se que, na verdade, precisaríamos de poucas coisas, que a volúpia de possuir e de acumular é uma perversão dos civilizados. Precisamos de uma casa, do amor, da família, de meia dúzia de objetos e de amigos…" (Affonso Romano de Sant’Anna)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Leide Moreira e Renato–Lições de Vida

“O cantor Ney Matogrosso encontrou-se no domingo, assim que terminou o show "Beijo Bandido", com a fã Leide Moreira, 62. Ela não lhe disse uma palavra. Apenas olhou para o ídolo. Não mexeu um músculo. Ele perguntou se ela compreendia o que estava acontecendo. Sim. E acabou-se o encontro da fã com o cantor. Nem beijo teve.
Mas Leide, advogada e poeta, estava feliz como há muito tempo não acontecia. Imobilizada desde 2005 em uma cama, por causa da doença conhecida como esclerose lateral amiotrófica, caracterizada pela paralisia progressiva de cada músculo do corpo, Leide escolheu ir ao show de Ney Matogrosso.
Ela não fala, não anda, não come. Nem respira. Todas essas funções são realizadas por aparelhos, oxigenadores e sondas espetadas pelo corpo.
Também não pisca. O abrir e fechar de olhos, necessário para a lubrificação do globo ocular, quem faz são cuidadoras e enfermeiras, manuseando com delicadeza e paciência as pálpebras sem força nem para um piscar. (Até o verbo ficou estranho: "Pisca a Leide, por favor", pede uma cuidadora à outra de tempos em tempos.)
Mas a mulher ouve e entende o que se passa em volta. Por exemplo, gosta de Ney Matogrosso, que canta de Vinícius de Moraes "Quantos naufrágios/ Nos olhos teus.../ Ó minha amada/ Que olhos os teus".
Foi com os olhos -a única coisa que ainda consegue mover por conta própria- que Leide falou de seu desejo de ir ao show. A mulher se comunica como o protagonista do filme "O Escafandro e a Borboleta" (França, 2008).
Uma tabela com letras e palavras-chave é-lhe apresentada. Coluna 1? Olhos virados para a direita significam "sim", para a esquerda, "não". As cuidadoras Ivania Soares e Eliane de Almeida perguntam pacientemente: Coluna 1? 2? 3?, até que venha o "sim". Segue-se a pesquisa da linha. 1? 2? 3? Até o "sim". Na intersecção de linha e coluna, surge a letra desejada. E outra e outra. Até formar a palavra: Ney.
Leide não saía de casa desde o aniversário de São Paulo (25.jan). É difícil. A família tem de alugar ambulância com médico, técnico de enfermagem e enfermeiro, além do motorista socorrista.
Como equipamentos de apoio, leva um concentrador de oxigênio, um respirador, cilindro de oxigênio, sonda para urina, dieta para ser ministrada diretamente no estômago. E vão ainda as duas cuidadoras e a técnica de enfermagem Cristiane Santos Antão da Silva. Mais a filha, chamada Leide, como a mãe.
Ivania e Eliane aprenderam a gostar de Ney Matogrosso com Leide. Os olhos pedem os CDs. As duas decoraram todas as músicas. No show, enquanto uma mão "pisca" Leide, a outra mão dança ao ritmo de "Fascinação": "E, no teu olhar, tonto de emoção, com sofreguidão, mil venturas previ." Leide

O casamento de Renato e Daniela aconteceu no dia 28 de outubro. Juntos há seis anos, o casal morava em Santa Cruz do Capibaribe. Renato, que sofria de câncer renal, estava internado há dois meses na enfermaria de oncologia do Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip). A cerimônia foi realizada num altar improvisado dentro da enfermaria , cercado pelos pais e amigos próximos. Logo após o casamento, Renato teve uma melhora psicológica visível. Renato não quis ser sedado. Concordou ser medicado apenas com analgésicos para aliviar as fortes dores. E Daniela sempre ao seu lado. Renato morreu na tarde ddo dia 11 de novembro. Ele apertou a mão da mulher, sorriu e fechou os olhos. Numa serenidade que comoveu a todos presente. Mas antes de fechar os olhos, perguntou ao médico se poderia doar algum dos seus órgãos. E, assim, autorizou a doação das suas córneas.

A alegria e vontade de viver do motorista chamou a atenção dos profissionais que cuidaram dele nesses dois meses. Um dia após a cerimônia de casamento de Renato na enfermaria da oncologia, a coordenadora do setor, Jurema Telles, decidiu criar uma caixinha de desejos para que cada um dos pacientes em estado terminal - tratados sob os cuidados da chamada medicina paliativa - também pudessem realizar os seus sonhos. Renato

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Crie Filhos em vez de herdeiros

Li em alguns Blogs que as frases abaixo fizeram parte de uma Campanha Publicitária do Citybank exibida  em 2006, antes da proibição de outdoors em São Paulo e que a agência Fallon – SP, foi premiada. Consegui comprovar que a Agência Fallon é americana, o Citybank já foi seu cliente e ela encerrou suas atividades no Brasil em 2007 (Fallon) Sendo da Fallon ou não…

 

As frases são oportunas e verdadeiras. 

"Crie filhos em vez de herdeiros."
"Dinheiro só chama dinheiro, não chama para um cineminha, nem para tomar um sorvete."
"Não deixe que o trabalho sobre sua mesa tampe a vista da janela."
"Não é justo fazer declarações anuais ao Fisco e nenhuma para quem você ama."
"Para cada almoço de negócios, faça um jantar à luz de velas."
"Por que as semanas demoram tanto e os anos passam tão rapidinho?"
"Quantas reuniões foram mesmo esta semana? Reúna os amigos."
"Trabalhe, trabalhe, trabalhe. Mas não se esqueça, vírgulas significam pausas..."
"...e quem sabe assim você seja promovido a melhor (amigo/pai/mãe/filho/filha/namorada/namorado/marido/esposa/irmão/irmã... etc.) do mundo!"
"Você pode dar uma festa sem dinheiro. Mas não sem amigos."

sábado, 28 de agosto de 2010

Abraço Grátis, Free Hugs, Abbracci Gratis, Regalo Abbracci

Recebi este vídeo da Mônica e me pegou de jeito. Num momento de fragilidade, a música forte de Alexandra Burke – Hallelujah, e a sugestão do abraço me levou às lágrimas.  Eu gostaria de receber um abraço agora.

Por aqui, se oferecermos um abraço assim na rua, corremos sério risco de assalto. Que pena!

“Por um momento nossas vidas sentiram nossas almas sendo mutuamente tocadas.” ( Oscar Wilde).

domingo, 18 de julho de 2010

4 Lições de Espiritualidade

Não sei bem se essa mensagem  nos remete ao conformismo, como se tudo o que acontece em nossas vidas  independesse  da nossa vontade. Eu acredito muito que nós somos o que pensamos e fazemos e que podemos mudar o rumo das nossas vidas. A verdade é que nesta manhã ensolarada de domingo eu achei a mensagem muito linda e espero verdadeiramente, que todos nós sigamos em frente usando toda a experiência adquirida para o nosso enriquecimento espiritual, material, profissional e amoroso.

 

Recebi da Sandra L. e repasso.

4 lições de espiritualidade

 

revoada

1-"A pessoa que vem é a pessoa certa".

Significa que ninguém está em nossa vida por acaso. Todas as pessoas ao nosso redor estão interagindo conosco. Há sempre algo que nos faz aprender e avançar em cada situação.

estrada 2

2-"Aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido"

Nada, nada, absolutamente nada do que acontece em nossas vidas poderia ter sido de outra forma. Mesmo o menor detalhe. Não há nenhum "se eu tivesse feito tal coisa..., aconteceu que um outro...". O que aconteceu foi tudo o que poderia ter acontecido, e foi para aprendermos alguma lição e seguirmos em frente. Todas e cada uma das situações que acontecem em nossas vidas são perfeitas.

Uma série de cascatas ladeadas de flores.

3-"Toda vez que você iniciar é o momento certo".

Tudo começa na hora certa: nem antes, nem depois. Quando estamos prontos para iniciar algo novo em nossas vidas, é o momento em que as coisas acontecem.

Folhas de bordo no outono.

4-"Quando algo termina, acaba realmente".

Simplesmente assim. Se algo acabou em nossas vidas foi para a nossa evolução, por isso, é melhor seguirmos em frente e nos enriquecermos com cada experiência.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Lugar do Bem -

Recebi um e-mail da Laurister, minha sobrinha, repassando esta mensagem. Abracei a idéia e publico aqui, para que alguém que se interesse colabore com a Tuca.


"Amigos queridos


Estou escrevendo para fazer uma convocação. Depois de tanto ver tragédias nos jornais, televisão e internet, percebi que faz muita falta fontes de informações que divulguem o bem. O mundo não é só tragédia, não é só marido espancando mulher, pai estuprando filha, corrupção, mentira, violência, acidentes, catástrofes, etc. Existem coisas maravilhosas acontecendo no mundo a toda hora, mas infelizmente ficamos sabendo de poucas ou quase nada.

Se só tivermos acesso a essa visão do mundo, ele realmente vai se tornar cada vez mais feio, e vai ser doloroso continuar vivendo nele. Preocupada com esse fato tive a idéia de fazer um blog para noticiar só coisas boas, boas em todos os sentidos, não só noticias de jornal, mas um espaço para postar frases, textos, fotos, vídeos e qualquer manifestação que seja do bem. Um ¨lugar do bem¨ como o próprio nome do blog já diz.


Mas é claro que isso não se faz sozinha, e por isso vim pedir a ajuda de vocês. A idéia é transformar todos nós em repórteres do bem, que vocês me enviem por e-mail, tudo que acham que se enquadre nessa idéia para que eu possa postar no blog. Mas o mais importante, e é ai que esta o desafio, é que não nos limitemos a divulgar só coisas prontas, baixadas da internet, que lemos em algum lugar, ou que de certa forma seja acessível por outros meios. Claro que tudo isso também é muito importante, mas gostaria que fossemos mais além, e produzíssemos nossas próprias matérias. Quando vocês encontrarem uma pessoa, lugar ou qualquer coisa que tenha um diferencial, que achem interessante e que valha a pena divulgar e noticiar, banquem a repórter, peguem uma caderninho, façam uma entrevista, peguem o celular, façam um vídeo, tire uma foto, enfim, o que estiver ao seu alcance. Não precisa ter a qualidade do jornal nacional, porque o que importa é o conteúdo. É o que queremos compartilhar com o mundo. Quantas vezes não somos abençoados por esses momentos na vida e eles acabam ficando guardados só para a gente?


Nós já temos o habito de mandar coisas interessantes uns para os outros através de e-mails, mas isso também é uma fonte que acaba se limitando a nossa corrente de amigos e conhecidos. Vamos divulgar as coisas boas para todo o mundo, fazer esse blog circular e alcançar pessoas que jamais vimos, lugares que jamais conhecemos. Que as pessoas tenham pelo menos uma fonte alternativa de paz, e que isso seja acessível ao máximo de pessoas possíveis. A idéia é começar entre nós mesmos e depois, que mais e mais pessoas participem do blog, não só como leitores mas como fornecedores de conteúdo.


É isso ai pessoal, esta lançada a convocação, espero a colaboração de todos.


Beijos

Tuca


Obs1: O endereço do blog: http://lugardobem.blogspot.com/


Obs2: quando forem mandar conteúdo mandem para o e-mail Mandalafilmes@gmail.com e coloquem a palavra blog como assunto.


Obs3: Passem a idéia a diante! "

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A Mulher Madura - Affonso Romano Sant'Anna



A Mulher Madura

Affonso Romano de Sant'Anna


O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.

De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.

Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.

A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.

A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.

A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a sutileza de um oboé sobre a campina do leito.

A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.

O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, decodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.

Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.

Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.

Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.

A mulher madura está pronta para algo definitivo.

Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o vôo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta jóias. As jóias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.

A mulher madura é um ser luminoso é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.

Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar.

(15.9.85)
O texto acima foi extraído do livro "A Mulher Madura", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 09.

domingo, 4 de abril de 2010

Segredos - Danuza Leão


Segredos

Danuza Leão

DENTRO DE cada coração há um segredo guardado, um segredo que jamais será contado à melhor amiga, nem ao padre nem ao psicanalista. Não que seja algo que deva ser escondido, mas é uma coisa que não poderá, jamais, ser dividida com ninguém: é uma coisa só sua. Pode se tratar de um fato que aconteceu e que seria um escândalo se alguém soubesse, uma linda história de amor ou apenas um delírio de imaginação, mas dele ninguém vai saber, nunca.
Virou uma mania contar tudo que nos acontece; mas as mais graves, mais sérias, que vêm lá do fundo, essas não se conta a ninguém. A gente pensa que certos pensamentos só acontecem com mulheres muito bonitas e homens muito interessantes, gente que já percorreu o mundo e passou por todas as experiências: ledo engano. Na vida da mais humilde lavadeira da periferia podem ter acontecido coisas que fariam inveja à mais bela e elegante mulher da cidade, que talvez por cuidar tanto de sua beleza e de sua elegância nunca perdeu tempo olhando seu próprio coração.
Quando estiver num lugar cheio de gente, comece a prestar atenção às pessoas, mas uma atenção diferente, mais cuidadosa. Vai perceber que a mais escandalosamente linda de todas, aquela cujo decote vai até o umbigo, e que a fenda da saia vai até a cintura, não está vestida dessa maneira para verdadeiramente conquistar um homem, mas sim para conquistar todos eles; e todos, nesse caso, quer dizer nenhum.
Em algum canto dessa festa vai haver uma mulher absolutamente normal, de uma idade mais pra lá do que pra cá, conversando com uma amiga; uma daquelas mulheres que se olha e sobre a qual não se pensa nada -ou se pensa, é que ela namorou, noivou, casou, teve filhos, foi fiel e que sua vida foi de um tédio atroz. Pois é aí que pode -e geralmente está- o engano.
Essas, se é que viveram mesmo uma vida sem grandes e trepidantes histórias de amor, costumam ter tido desejos intensos e inconfessáveis, e quanto mais castas tiverem sido, maior a quantidade deles. Vamos deixar bem claro que desejar não é cometer nenhuma infidelidade. Por isso, nada mais natural que isso tenha acontecido com nossas mães, tias e avós.
Talvez, na época pré-Freud, elas não conseguissem identificar com clareza o que estava acontecendo, mas se pensarem agora sobre o medo que alguns homens lhes causavam, o pânico de ficar sozinha na sala com alguns deles e a aversão intensa que outros lhes provocavam, visto sob uma ótica mais moderna e esclarecida, poderia ser medo não deles, mas do desejo delas próprias; medo de se atirar no pescoço de um cunhado ou do filho do farmacêutico, que pela idade poderia ser seu próprio filho.
Quando estiver numa daquelas reuniões de família com aquelas tias que nunca perderam uma missa em toda sua existência, ofereça um licor e puxe pela sua língua.
Ela não vai dizer tudo, claro, até porque não sabe direito, mas não vai ser difícil para você desvendar os mistérios que se escondem naquele coração. E se quiser ser bem pérfida, puxe pela vida das outras, procure -sutilmente, claro -saber dos podres da família. Ou vai dizer que na sua nunca teve nenhum?
E quando olhar para sua avó, tão distinta, com os cabelos tão brancos, com um ar tão distante, imagine as loucuras que não devem ter passado pela cabeça dela. Ou que talvez ainda estejam passando. (Danuza Leão -Folha de São Paulo - Cotidiano - 04/04/2010)
http://arquivoetc.blogspot.com/2010/04/danuza-leao-segredos.html


Foto: http://mguidoni.wordpress.com/2009/04/19/os-segredos-do-empreendedor-bem-sucedido/

Leio a crônica de Danuza sobre Segredos e me ocorre que é muito, mas muito difícil mesmo conseguir guardar o próprio segredo. Dos outros não, porque quando lhe contam alguma coisa e pedem segredo é fácil manter e cumprir o pedido. Para a pessoa que contou há um alívio, porque conseguiu compartilhar com alguém. Mas um segredo seu, que deveria ficar guardadinho, vai crescendo, oprimindo, trazendo angústia e....você conta prá alguém. Aí vem o arrependimento, porque você sabe que esta pessoa acabará compartilhando com outra (s). E seu segredo deixa de ser seu e se torna propriedade de pessoas que não se importam com você. E como é um segredo que traz dor, sofrimento, depois que conta você espera colo, ombro. E não recebe nem uma coisa nem outra. A única coisa que lhe oferecem é cobrança de atitude ou indiferença. Mas seu coração está tão despedaçado que nem atitude você tem mais. Você clama por socorro mas o outro está tão preocupado com o aparelho celular que não escuta seu grito. Daí você faz outro pedido de socorro para outra pessoa. E recebe um não. E você aprende uma dolorosa lição. Segredos só podem ser compartilhados quando forem segredos felizes. Você vai encontrar solidariedade, apoio, amizade, amor. Segredos tristes guarde pra você. Ninguém é capaz de entender sua dor. Talvez a pessoa que causou a dor poderia lhe entender. Mas, agora, ela já não pode mais.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Quando você pensava que eu não estava olhando


Mary Rita Schilke Korzan escreveu um poema para sua mãe há 24 anos, agradecendo por tudo que ela tinha feito como mãe, amiga e modelo. No seu casamento, o poema foi lido como tributo à sua mãe. Então, muitos convidados do casamento pediram uma cópia. Amigos passaram para outros amigos. Um ministro não conseguia lembrar quem dera para ele, mas incluiu-o como "escritor anônimo" em seu livro sobre amar os outros. Outro autor pegou de lá para a sua compilação de trabalhos, até que Mary finalmente encontrou seu poema, listado como de "Autor Desconhecido". Mary Rita Schilke Korzan é mãe de três filhos e vive em Granger, Indiana, com seu marido.



Quando você pensava que eu não estava olhando

Mary Rita Schilke Korzan

"Quando você pensava que eu não estava olhando, você pendurou meu primeiro desenho na geladeira, e eu quis pintar outro.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você deu comida a um gato perdido, e eu pensei que era bom cuidar de animais.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você fez um bolo de aniversário só para mim, e eu entendi que coisas pequenas eram especiais.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você orou, e eu acreditei que havia um Deus com quem eu sempre podia falar.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você me deu um beijo de boa noite, e eu me senti amado.

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi lágrimas descendo dos seus olhos, e eu aprendi que às vezes coisas doem – mas que não faz mal chorar.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você sorriu, e me fez querer ficar bonita(o) daquele jeito também.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você se importou, e eu quis ser tudo que podia.

Quando você pensava que eu não estava olhando – eu olhava … e queria lhe agradecer por todas aquelas coisas que você fez quando você pensava que eu não estava olhando."

Fonte: http://search.barnesandnoble.com/When-You-Thought-I-Wasnt-Looking/Mary-Korzan/e/9780740741920

Recebi este poema da Cristina Pintaudi e além de achá-lo maravilhoso, ele serve como reflexão tanto para os pais como para os filhos. Para os pais porque é inegável a importância do exemplo. Ele educa muito mais que as palavras. Todos os pais devem pensar nisso. Para os filhos porque, quando crescem, muitas vezes se esquecem que muito do que se tornaram foi porque "olharam" e aprenderam.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

27/01/2010 - Frei Beto -Oração do Pai Nosso e da Ave Maria na versão de Frei Beto.


ORAÇÃO DO PAI-NOSSO

Versão de Frei Betto

Pai-nosso que estais no céu, e sois nossa Mãe na Terra, amorosa orgia trinitária, criador da aurora boreal e dos olhos enamorados que enternecem o coração, Senhor avesso ao moralismo desvirtuado e guia da trilha peregrina das formigas do meu jardim,

Santificado seja o vosso nome gravado nos girassóis de imensos olhos de ouro, no enlaço do abraço e no sorriso cúmplice, nas partículas elementares e na candura da avó ao servir sopa,

Venha a nós o vosso Reino para saciar-nos a fome de beleza e semear partilha onde há acúmulo, alegria onde irrompeu a dor, gosto de festa onde campeia desolação,

Seja feita a vossa vontade nas sendas desgovernadas de nossos passos, nos rios profundos de nossas intuições, no vôo suave das garças e no beijo voraz dos amantes, na respiração ofegante dos aflitos e na fúria dos ventos subvertidos em furacões,

Assim na Terra como no céu, e também no âmago da matéria escura e na garganta abissal dos buracos negros, no grito inaudível da mulher aguilhoada e no próximo encarado como dessemelhante, nos arsenais da hipocrisia e nos cárceres que congelam vidas.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje, e também o vinho inebriante da mística alucinada, a coragem de dizer não ao próprio ego e o domínio vagabundo do tempo, o cuidado dos deserdados e o destemor dos profetas,

Perdoai as nossas ofensas e dívidas, a altivez da razão e a acidez da língua, a cobiça desmesurada e a máscara a encobrir-nos a identidade, a indiferença ofensiva e a reverencial bajulação, a cegueira perante o horizonte despido de futuro e a inércia que nos impede fazê-lo melhor,

Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e aos nossos devedores, aos que nos esgarçam o orgulho e imprimem inveja em nossa tristeza de não possuir o bem alheio, e a quem, alheio à nossa suposta importância, fecha-se à inconveniente intromissão,

E não nos deixeis cair em tentação frente ao porte suntuoso dos tigres de nossas cavernas interiores, às serpentes atentas às nossas indecisões, aos abutres predadores da ética,

Mas livrai-nos do mal, do desalento, da desesperança, do ego inflado e da vanglória insensata, da dessolidariedade e da flacidez do caráter, da noite desenluada de sonhos e da obesidade de convicções inconsúteis,

Amemos.



Inconsútil
Mais uma do Grande Saramago. Inconsútil significa 1. Que é inteiriço, que não apresenta emendas ou costuras (veste inconsútil). 2. Que é feito de Uma Só Peça; Inteiriço: O ataúde era tão perfeito que parecia inconsútil. 3. Fig. Sem falhas, interrupções ou fendas (sistema inconsútil).



Ave Maria Latino Americana

Ave Maria
grávida das aspirações de nossos pobres

o Senhor é convosco,
bendita sois vós entre os oprimidos,

benditos são os frutos de libertação do vosso ventre.

Santa Maria Mãe latino-americana
rogai por nós
para que confiemos no Espírito de Deus,

agora que o nosso povo assume a luta por justiça
e na hora de realizá-la em liberdade,
para um tempo de paz.
Amém!

(texto atribuído a Frei Betto)
Fonte: SAVAGET, Luciana, org. Maria de todas as graças. 2ª ed. p.105. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 1998.

27/01/2010 - Rodrigo Lombardi recita Augusto Branco

Este texto "Vida" correu pela Net como se fosse de Charles Chaplin. É de Augusto Branco. Agora, por favor, me explique. Que roupa é essa do Rodrigo Lombardi? Ou ele pensou que o texto era de Chaplin e se fantasiou? E o choro? Forçou. Fora isso a interpretação ficou legal e o texto é muito bonito.



Vida

Augusto Branco

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas
que eu nunca pensei que iriam me decepcionar,
mas também já decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
e amigos que eu nunca mais vi.

Amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
e quebrei a cara muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!

Viva!!

Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" para ser insignificante.

domingo, 17 de janeiro de 2010

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

31/12/2009 -Mensagem sobre Oportunidades

O texto é bonito, a montagem do vídeo é bacana e oportuna para o último dia do ano.



Enviado pela Maria Alice

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

19/08/2009 - Primeira Postagem

Minha primeira postagem e não sei o que escrever. Gostaria de postar alguma coisa bem inteligente, bem humorada, bacana e que fizesse diferença.
Que eu POSSA fazer isto nas próximas postagens.