domingo, 6 de março de 2011

Lugares–1946-1960

2- Rio Verde

2- 1 – Cabeleira – Logo após meu nascimento em Uberlândia, meus pais voltaram para casa no Cabeleira – Go. Nossa casa era muito, muito modesta, de pau a pique, e foi lá que meu pai começou o seu primeiro negócio. Uma farmácia.  Alguns anos depois, comprou um bom lote e construiu nossa casa de alvenaria, grande, confortável com um extenso quintal com horta, galinheiro e muitas frutas.

F1B2

A casa tinha a farmácia na frente, o “laboratório” , 3 quartos, sala, uma imensa cozinha, com fogão a lenha e onde tudo acontecia, a área da cisterna, o banheiro e 2 cômodos para depósito. Ali passei minha infância.

2-2 – Escola Profissional Rural de Rio Verde

A minha primeira escola. Em 1954, com 7 anos completos fui para a escola que ficava a cerca de 12 km, em estrada de terra, da minha casa. Iamos e voltávamos na carroceria  de um caminhão que passava nas casas recolhendo os alunos. O caminhão não tinha  barra de proteção,  bancos,   lona e nenhum  adulto  para controlar a molecada. E nunca houve nenhum acidente, felizmente. A cabine do caminhão, era reservada às professoras. Havia um motorista, o Solon, que me concedia o privilégio de ir na cabine até as casas das professoras. Eu me sentia tão importante quanto a   Rainha da Inglaterra, mas acho que ele se preocupava porque eu era a mais nova, muito pequena. Quando chovia muito o caminhão não ia e perdíamos  aula, ou quando o governo suspendia a verba do transporte, ia um trator puxando uma carreta, onde os alunos se empoleiravam. Minha irmã começou a estudar dois anos antes de mim e foi alfabetizada com a Cartilha do Povo.

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A primeira lição era uma mão aberta e cada dedo apontando para uma vogal. Seguiam  lições de união das vogais, depois consoantes, até a formação de frases como “ Vovô viu a uva”. Assim que minha irmã foi promovida para o segundo ano e abandonou a cartilha, eu me apossei dela, fiz todas as lições e quando fui para a escola já sabia ler. Eu me lembro bem da cena. Primeiro dia de aula, fui apontar um lápis com uma lâmina Gillette e cortei o dedo. E como sangrou! A professora descobriu que eu já sabia ler. E o dedo sangrando… Ela pega um livro grosso, pesado e me manda ler um texto para verificar se eu sabia mesmo ler. O sangue do dedo sujando o livro. Aí veio o decreto. Você vai para a segunda série. Que pena! Queimei muitas etapas, e toda minha dificuldade com a matemática começou aí, tenho certeza disto.

Esta escola ficava numa pequena vila, onde moravam apenas funcionários públicos. As casas eram muito boas, divididas por extensos gramados e  recobertas por um cascalho grande e branquinho,  onde furei meu joelho direito num queda.  Depois, mudamos para outro local construído especialmente para funcionar a escola. Era uma escola rural e foi lá que tive a maioria das minhas experiências infantis felizes ou não. Tinhamos aulas de campo de agricultura, aulas de socialização(apresentações de teatro,  poesia, canto), educação física, puericultura, trabalhos manuais, além das disciplinas convencionais. Foi lá que eu vi, pela primeira vez, a exibição de um filme. Deve ter sido com um projetor Super 8, porque a imagem era sofrível e bem pequena.  Fiz até o 5º ano. ( Entrei direto no 2º ano, então fiz 3  anos de ensino primário e 1 ano de preparação para o ginásio) No ano de 1958 em que eu entraria para o ginásio, a escola paralisou as atividades e fiquei sem estudar.

Em 1959, nos mudamos para Uberlândia, frequentei um curso de férias, intitulado  Admissão ao Ginásio, ministrado pelo Liceu de Uberlândia e obrigatório para alunos oriundos de outras escolas e ingressei na 1ª série Ginasial do Liceu, onde estudei até 1965 quando concluí o Curso Técnico de Contabilidade.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois é Delminha, em 1959 eu terminei o clássico e 1960 eu me casei.interessante!infância feliz me parece, a sua,boas recordações.

Anônimo disse...

Delma
A sua história me emocionou muito,digo a continuação.Vale resaltar o seu esforço,a sua determinação e dedicação nos estudos e,ainda,os valores e princípios que prevalecem até hoje.Uma vida marcada por muita lição e exemplo!
Como fiquei comovida com o dedinho cortado!
Bjs Regina Bernardes

Anônimo disse...

Delma
Memória boa a sua.Acho que me alfabetizei na Cartilha Sodré e ensinei a ler na cartilha Caminho Suave.O método era alfabético,depois condenado por Paulo Freire,com a introdução do Construtivismo.Mas,a gente sabia ler bem e interpretar,o que não acontece com os alunos hoje.
Recordar é muito bom!!!
Bjs Regina Bernardes

Delma disse...

Relembrar e escrever sobre minhas histórias tem me feito bem. Uma lembrança aqui,outra ali, é praticamente uma terapia.

Bjs