segunda-feira, 21 de março de 2011

Japão - Gambarimasu

Texto de Andrés Braun, publicado  pelo jornal espanhol "El País".

"Gambarimasu é um dos verbos mais utilizados pelos japoneses. Pode-se usá-lo para si mesmo ou pode ser empregado para alentar os demais.

Poderia ser traduzido por perseverar ou por dar o melhor de si, embora seu verdadeiro e complexo significado transcenda essas acepções e condense parte do espírito coletivo da sociedade japonesa, que, nestes dias, assombra o mundo por sua integridade.

É um termo que conecta, por exemplo, com os valores de retidão, sacrifício ou entrega do 'bushido', o código samurai que se transmite de uma geração para outra e foi um pilar fundamental para cimentar o milagre japonês depois da 2ª Guerra Mundial.

Três décadas de crise não lograram que os japoneses deixassem de empregar esse vocábulo diariamente, e as informações que chegam estes dias das zonas mais afetadas pelo tsunami refletem esse espírito; falam de gente que fica em grandes filas para encher uma garrafa de água e que volta para colocar-se no fim da fila para encher uma segunda garrafa, ou de cidadãos que, apesar do medo, não querem abandonar a terra em que nasceram, viveram e na qual morrerão, se é o caso.

'O espírito militarista ainda está presente em muitas camadas da sociedade, embora, acima disso, os japoneses sejam uma gente tremendamente amável e com um enorme coração', comentava ao 'El País' Hisako Watanabe, psiquiatra da ala de pediatria do Hospital Universitário de Keio, em Tóquio, apenas duas semanas antes do terremoto.

O desenvolvimento durante séculos da harmonia (o chamado 'wa'), como elemento de coesão, fundamental para cultivar o arroz que alimentou durante séculos um país com pouco solo cultivável; a forte influência do confucionismo, que vê o indivíduo como um elemento social obrigado a cumprir uma função para a coletividade; ou a consistência grupal e as relações de codependência do Japão moderno podem servir para compreender parcialmente esse espírito.

Tanto quanto a história dos '47 ronin', evento do século 18 convertido em um dos grandes mitos nacionais. Trata de uma quadrilha samurai que esperou pacientemente para matar o responsável pela morte de seu senhor e se entregou voluntariamente às autoridades, antes de cometer 'seppuku' (o ritual do suicídio). Um relato de lealdade e sacrifício que traz à mente os 50 engenheiros que lutam para esfriar os reatores de Fukushima.

Em contrapartida, poucos podem dizer o mesmo dos líderes nipônicos. O governo de [Naoto] Kan, o primeiro-ministro, continua levantando dúvidas, e Shintaro Ishihara, polêmico escritor e governador de Tóquio, se exibiu segunda-feira tachando o tsunami de 'castigo divino'. Como já sucedeu no terremoto de 1995 em Kobe, o povo japonês está se mostrando muito superior a seus dirigentes e, nestes momentos, parece dizer a si próprio 'ganbaru Nihon' (ânimo, Japão)".

Fonte: Folha.com

Um comentário:

Anônimo disse...

'Ganbaru Nihon' (ânimo, Japão)".

Laís