quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Fim de Ano - O que não foi bom!

"...não há nada de automático na maneira como achamos que vemos o mundo.
...o conjunto olho-cérebro está menos para câmera digital e mais para simulador de realidade virtual, usando pistas às vezes enviesadas para construir um modelo do mundo na cabeça de cada pessoa."(Oliver Sacks)

..."A saudade dos tempos em que a boa ventura fazia parte do cotidiano é fruto de uma armadilha da memória, função cerebral mestre em editar fatos passados. As pequenas frustrações, os sofrimentos banais, as inquietudes e os medos infundados que atormentam a infância e a adolescência, a memória apaga; sobrevivem apenas as lembranças carregadas de emoção."(Drauzio Varella)



Antes que eu seja traída pela minha memória e escreva que dezembro de 2010 e janeiro de 2011 foram perfeitos, vou registrar o que "azedou o doce", impedindo que estes dois meses fossem realmente perfeitos.
Dezembro começou com muitas alegrias: a chegada da família que mora na França, a festa que reuniu familiares queridos, comemorações natalinas, etc. O Ano Novo e a vinda das minhas netas para passarem 15 dias de férias comigo. Essa foi a parte boa e perfeita.





A parte obscura que minha mente, com certeza, vai esquecer: a crise de rinite que teve início no final de novembro e da qual não me livrei até hoje. Espirros, tosse, pólipo na narina direita,
efeitos colaterais do remédio para colesterol misturado com um vinhozinho, que provocou muito mal estar e vômito, uma crise de pressão alta (22 por 10) que me levou ao hospital, sinusite com 14 dias de dor de cabeça (ininterrupta) etc. Agora, que o pior já passou, (ainda tenho umas sequelas) concluo que até a parte considerada boa ficou muito prejudicada. O uso de antialérgicos, a dor de cabeça me deixaram desanimada, sonolenta, preguiçosa. Não consegui "curtir" a presença da família na minha casa como eu gostaria. Marcelo voltou sem comer a Feijoada planejada; Hugo e Bianca voltaram para a França sem que eu conseguisse estabelecer com eles uma interação, uma intimidade de avó e netos. Não consegui deles abraços e beijos espontâneos, como eu gostaria. Não consegui brincar 1/3 do que poderia ter brincado com Ana Lia e Ana Isa. Elas gostam de brincadeiras de correr, esconder, de movimento. E era tudo que eu não queria e nem conseguiria fazer.
Mas aí..... eu penso na tragédia que a chuvas têm provocado em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Como meus probleminhas são pequenos! Ainda terei muito tempo de interagir com Hugo e Bianca, fazer muitas feijoadas para o Marcelo, brincar bastante com Ana Lia e Ana Isa. Acho que não existe tragédia maior do que deitar-se para dormir e ser levado por lama, pedra ou ter a família levada, perdendo também casa, documentos, tudo. Fico imaginando: o presente de natal tão esperado e cobiçado, a jóia de estimação, as fotos que contam a história de gerações, o objeto guardado com carinho.... Irrecuperável. E as vidas que sequer aconteram...

Estas tragédias não podem ser esquecidas. Elas deverão permear a vigília e o sono, o dia e a noite das nossas autoridades até que se encontre solução para evitar outras que acontecerão a cada verão, se nada for feito.


"Nós outros navegaremos em nossa própria órbita, sujeitos aos mil acidentes da carne e do trânsito, encarando o cotidiano como um desafio heroico que transferimos para o dia seguinte, ou para o ano seguinte que nos traga a única prosperidade que realmente desejamos, a de continuarmos vivos, sabe-se lá de que modo." (Carlos Heitor Cony)

2 comentários:

Anônimo disse...

Realmente precisamos sempre lembrar
de tudo que temos,perto daqueles que perderam tudo.Precisamos agradecer muito e tentar não ligar para os pequenos aborrecimantos da vida.
Bjs
Irene

Delma disse...

Irene

Pena que ainda assistiremos estas tragédias por muito tempo ainda.Não creio que nossas autoridades cuidem rápido para evitá-las
Bjs