DRAUZIO VARELLA
Feliz Ano Novo
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Em nome da felicidade, damos o melhor de nós e passamos tanto tempo à procura do amor
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Feliz Ano Novo
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Em nome da felicidade, damos o melhor de nós e passamos tanto tempo à procura do amor
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FELIZ ANO Novo desejamos uns aos outros na data de hoje, porque a felicidade é o estado da alma que nos leva à sensação de plenitude emocional mais abrangente que a condição humana é capaz de atingir.
Em nome dela, passamos a existência atrás de dinheiro, realização profissional e um lugar ao sol. Por ela, damos o melhor de nós: ajudamos o próximo, fazemos amigos, criamos filhos, cultivamos o espírito e passamos tanto tempo à procura do amor. E também o pior: a avareza, o egoísmo, a tendência espúria de explorar os mais fracos.
É o bem mais desejado. Para viver infeliz, de que vale todo o dinheiro do mundo? -reza a sabedoria popular.
A felicidade continuada, infelizmente, é privilégio apenas da infância. Só as crianças conseguem ser felizes por dias inteiros, entretidas nas brincadeiras, perdidas nos emaranhados da imaginação. Na fase adulta, ela é pássaro de voo ágil que nos visita já pronto a bater asas assim que o primeiro pensamento incômodo nos vier à mente.
A brevidade desses encontros talvez explique a mania de colocá-la num sítio sempre distante daquele em que nos achamos. Ah, como éramos ou como seremos felizes.
A saudade dos tempos em que a boa ventura fazia parte do cotidiano é fruto de uma armadilha da memória, função cerebral mestre em editar fatos passados. As pequenas frustrações, os sofrimentos banais, as inquietudes e os medos infundados que atormentam a infância e a adolescência, a memória apaga; sobrevivem apenas as lembranças carregadas de emoção.
Já projetar a felicidade para dias futuros, se de um lado é força que nos move na direção de um mundo melhor, de outro torna o presente um fardo difícil de suportar. A vida se transforma numa sucessão de problemas a reclamar soluções urgentes, em vez de se apresentar como de fato é: um mistério impenetrável e encantador.
A impressão de que a vida é uma montanha a ser escalada para chegarmos ao ápice na juventude, para depois seguir ladeira abaixo na direção de um vale de lágrimas povoado pela decrepitude e pelo sofrimento físico que precede o fim, é falsa. Não é dessa forma que os seres humanos encaram a existência.
Fiz esse preâmbulo filosófico-botequinesco, leitor condescendente, para comentar um artigo publicado no "The Economist".
Anos atrás, no pequeno reinado asiático do Butão, foi criado o Índice Nacional de Felicidade, com o objetivo de medir o grau de satisfação do povo, como complemento dos indicadores econômicos clássicos: PNB, renda per capita, consumo de energia etc.
Recentemente, governantes europeus se interessaram por esse índice. Pesquisas realizadas em 72 países pelo Eurobarometer, pela America's General Social Survey, pelo Instituto Gallup e por várias universidades forneceram dados curiosos.
Por exemplo, entre os cidadãos com 62 anos, os ucranianos são os mais infelizes do mundo. Entre os de 35 anos, a infelicidade máxima é a dos suíços, apesar da riqueza.
Em todos os países, os índices de bem estar emocional começam a cair a partir dos 18 a 21 anos. A queda se acentua depois dos 30, para chegar ao nível mais baixo ao redor dos 46 anos, em média. A partir dessa idade, a curva se torna ascendente, e não para mais de subir.
Na faixa dos 65 aos 70 anos os índices já voltaram aos valores dos 18 anos, para ultrapassá-los com folga no período que vai até os 85 anos.
O bem estar emocional que despenca até os 46 anos e atinge níveis máximos à medida que mulheres e homens envelhecem, constitui fenômeno universal. Vale para os Estados Unidos e para o Zimbábue.
Os resultados continuam estatisticamente significantes depois de corrigidos de acordo com os níveis de renda, de emprego e do número de filhos, sugerindo que não ocorrem como consequência de fatores externos, mas de mudanças individuais associadas ao processo de envelhecimento.
Os mais velhos são mais hábeis para resolver conflitos, aceitam com mais naturalidade as frustrações e lidam melhor com as emoções negativas. A consciência de que a vida se aproxima do fim estabelece prioridades, não há mais tempo para desperdiçar energia com o supérfluo, é preciso concentrar as ações na busca do que é essencial à felicidade.
Em nome dela, passamos a existência atrás de dinheiro, realização profissional e um lugar ao sol. Por ela, damos o melhor de nós: ajudamos o próximo, fazemos amigos, criamos filhos, cultivamos o espírito e passamos tanto tempo à procura do amor. E também o pior: a avareza, o egoísmo, a tendência espúria de explorar os mais fracos.
É o bem mais desejado. Para viver infeliz, de que vale todo o dinheiro do mundo? -reza a sabedoria popular.
A felicidade continuada, infelizmente, é privilégio apenas da infância. Só as crianças conseguem ser felizes por dias inteiros, entretidas nas brincadeiras, perdidas nos emaranhados da imaginação. Na fase adulta, ela é pássaro de voo ágil que nos visita já pronto a bater asas assim que o primeiro pensamento incômodo nos vier à mente.
A brevidade desses encontros talvez explique a mania de colocá-la num sítio sempre distante daquele em que nos achamos. Ah, como éramos ou como seremos felizes.
A saudade dos tempos em que a boa ventura fazia parte do cotidiano é fruto de uma armadilha da memória, função cerebral mestre em editar fatos passados. As pequenas frustrações, os sofrimentos banais, as inquietudes e os medos infundados que atormentam a infância e a adolescência, a memória apaga; sobrevivem apenas as lembranças carregadas de emoção.
Já projetar a felicidade para dias futuros, se de um lado é força que nos move na direção de um mundo melhor, de outro torna o presente um fardo difícil de suportar. A vida se transforma numa sucessão de problemas a reclamar soluções urgentes, em vez de se apresentar como de fato é: um mistério impenetrável e encantador.
A impressão de que a vida é uma montanha a ser escalada para chegarmos ao ápice na juventude, para depois seguir ladeira abaixo na direção de um vale de lágrimas povoado pela decrepitude e pelo sofrimento físico que precede o fim, é falsa. Não é dessa forma que os seres humanos encaram a existência.
Fiz esse preâmbulo filosófico-botequinesco, leitor condescendente, para comentar um artigo publicado no "The Economist".
Anos atrás, no pequeno reinado asiático do Butão, foi criado o Índice Nacional de Felicidade, com o objetivo de medir o grau de satisfação do povo, como complemento dos indicadores econômicos clássicos: PNB, renda per capita, consumo de energia etc.
Recentemente, governantes europeus se interessaram por esse índice. Pesquisas realizadas em 72 países pelo Eurobarometer, pela America's General Social Survey, pelo Instituto Gallup e por várias universidades forneceram dados curiosos.
Por exemplo, entre os cidadãos com 62 anos, os ucranianos são os mais infelizes do mundo. Entre os de 35 anos, a infelicidade máxima é a dos suíços, apesar da riqueza.
Em todos os países, os índices de bem estar emocional começam a cair a partir dos 18 a 21 anos. A queda se acentua depois dos 30, para chegar ao nível mais baixo ao redor dos 46 anos, em média. A partir dessa idade, a curva se torna ascendente, e não para mais de subir.
Na faixa dos 65 aos 70 anos os índices já voltaram aos valores dos 18 anos, para ultrapassá-los com folga no período que vai até os 85 anos.
O bem estar emocional que despenca até os 46 anos e atinge níveis máximos à medida que mulheres e homens envelhecem, constitui fenômeno universal. Vale para os Estados Unidos e para o Zimbábue.
Os resultados continuam estatisticamente significantes depois de corrigidos de acordo com os níveis de renda, de emprego e do número de filhos, sugerindo que não ocorrem como consequência de fatores externos, mas de mudanças individuais associadas ao processo de envelhecimento.
Os mais velhos são mais hábeis para resolver conflitos, aceitam com mais naturalidade as frustrações e lidam melhor com as emoções negativas. A consciência de que a vida se aproxima do fim estabelece prioridades, não há mais tempo para desperdiçar energia com o supérfluo, é preciso concentrar as ações na busca do que é essencial à felicidade.
Fonte: 01 de janeiro de 2011 -Ilustrada -Folha de São Paulo.
2 comentários:
Delmita, como Vc sabe acho o blog fantástico e o visito sempre.
No Roda Viva passado Roberto da Matta fez uma pergunta muito interessante que versa também sobre o tema: ''o que te dá prazer?'' Não é esse o mote da felicidade? Um beijão. Alcy
Já imaginou passar a vida fazendo só o que nos dá prazer? Adeus vassouras, fogão, ferro de passar, tanque, trânsito de Udi, médicos, dentistas (menos a Lauri),tinta de cabelo, gente chata, etc, etc,
Bjs
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