No dia 26 de fevereiro, José Ricardo, meu irmão completou 68 anos e seu neto, o Pedro Henrique, 9 anos.
Sendo alguns anos mais nova que ele, as lembranças da nossa infância remetem à comida ou a acidentes domésticos. Sempre que íamos visitar alguém da vizinhança, minha mãe recomendava que não pedissemos nada para comer e que nos comportássemos. Numa visita a D.Luisa, que nos recebia na sua imensa cozinha, ficávamos sentadinhos num banco comprido encostado à parede, esperando a hora do requeijão, sua especialidade. De costas prá nós e de frente para o fogão de lenha que ficava no centro da cozinha, D.Luisa ia mexendo a massa na panela de ferro e de vez em quando, levantava a colher espichando a massa do requeijão para o alto, provocando intensa salivação na "platéia". Aí, pegava os pratos, colocava as porções de requeijão quente derretido com açucar e distribuia a cada um que já não se aguentava mais de tanto esperar e salivar. Numa destas visitas, estávamos lá esperando o requeijão e um cacho de bananas estavala de maduro sobre o "rabo" do fogão. José Ricardo olhava para o cacho de bananas e olhava para minha mãe, que franzia a testa sinalizando que não era prá pedir a banana. Ele não se deu por vencido e sapecou: Mãe, se a D. Luisa me oferecer daquelas bananas eu posso aceitar? Ganhou das bananas e não foi castigado, porque, afinal de contas, ele não pediu. Quando mamãe fazia pamonhas, José Ricardo desandava a comê-las e era recriminado pela comilança. Mamãe, então reclama: Zé, chega de comer pamonha. Ele responde: Ora, mãe, eu comi só cinco.
Acho que essa pérola é dele. A professora pergunta: Por que nosso país tem o nome Brasil? E a resposta. Porque Pedro Alvares Cabral carregou o pau-brasil nas costas.
Lembro-me ainda das quebradeiras das quais ele era vítima. Pernas, braços, dentes. Fraturou o braço brincando sobre sacos de arroz empilhados que desabaram sobre ele. O outro braço, as pernas não me lembro como, mas foi o único irmão que teve fraturas. Quebrou o dente jogando volei na escola. Junto com nossos primos, que iam de Uberlândia passar férias lá em Goiás, subimos numa árvore do quintal portando, cada um, uma canequinha e fomos desafiados, acho que por ele, a urinarmos na caneca e beber da urina. Era coisa só para os corajosos. Todos nós fizemos. Eu dedurei todo mundo e todos nós apanhamos. Isabel, nossa irmã do coração, estava de casamento marcado e José Ricardo quis certificar se ela gostava de verdade do noivo. Pegou-a pelo pescoço e ordenou: Fale o nome de quem você gosta....ordenava, ordenava, mas não percebia que ela estava impedida de falar porque estava sufocada, até que Isabel desmaiou. Imaginem a correria. Uma vez, na casa da tia Emília, ele foi bater uma vitamina no liquidificador, o vidro mal colocado se soltou da base e na tentativa de segurá-lo, cortou os dedos nas lâminas que não pararam de girar. No ano passado, subiu numa cadeira, passou para o balcão para trocar uma lâmpada: ao descer do balcão para a cadeira, caiu e fraturou a perna, acabou sendo submetido a uma cirurgia. Ficou bem. Adolescente muito bonito de olhos azuis intensos, nos finais de semana, envergava um terno branco e saía para a "balada" que, naquela época eram as inocentes brincadeiras dançantes. Começou a trabalhar muito cedo e, pela vida afora, foi um trabalhador incansável em vários ramos de atividades. É um representante típico do heróico trabalhador brasileiro. Casou-se com a Maria Amélia, companheira que trabalhou intensamente com ele e formaram uma bela família de 3 filhos e 4 netos.
Praticamente nunca viajou de férias, nunca frequentou lugares badalados, morou com simplicidade, mas sempre fez festas memoráveis. Comida e bebida farta, com os convidados levando um pratinho para quem não pode ir e a presença de uma quantidade enorme de amigos e parentes. Continuando a tradição dos meus pais, a devoção a Santo Antônio, o dia do Santo Padroeiro é comemorado com farta mesa de quitutes juninos. Aliás, comida é especialidade deles. Por muitos anos tiveram fábrica de salgados, quitandas e bolos confeitados.
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