terça-feira, 9 de novembro de 2010

Paraíba - Habeas Pinho – Ronaldo Cunha Lima

Em 1955 em Campina Grande, na Paraíba, um grupo de boêmios fazia serenata numa madrugada do mês de junho, quando chegou a polícia e apreendeu o violão. Decepcionado, o grupo recorreu aos serviços do advogado Ronaldo Cunha Lima, então recentemente saído da Faculdade e que também apreciava uma boa seresta. Ele peticionou em Juízo, para que fosse liberado o violão.

Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados e bares de praias no Nordeste.

Mais tarde, Ronaldo Cunha Lima foi eleito Deputado Estadual, Prefeito de Campina Grande, Senador da República, Governador do Estado e Deputado Federal


Clemente Drago recita o poema numa versão diferente da que eu encontrei na fonte citada abaixo. No final o nome do Juiz é outro e os versos também são diferentes. Considero, então...

Habeas Pinho apresentado com “licença poética”

Eis a famosa petição.

HABEAS PINHO

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca :

O instrumento do crime que se arrola

Neste processo de contravenção

Não é faca, revólver nem pistola.

É simplesmente, doutor, um violão.

Um violão, doutor, que na verdade

Não matou nem feriu um cidadão.

Feriu, sim, a sensibilidade

De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,

Instrumento de amor e de saudade.

Ao crime ele nunca se mistura.

Inexiste entre eles afinidade.

O violão é próprio dos cantores,

Dos menestréis de alma enternecida

Que cantam as mágoas e que povoam a vida

Sufocando suas próprias dores.

O violão é música e é canção,

É sentimento de vida e alegria,

É pureza e néctar que extasia,

É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório,

Porém seu destino se perpétua.

Ele nasceu para cantar na rua

E não para ser arquivo de Cartório.

Mande soltá-lo pelo Amor da noite

Que se sente vazia em suas horas,

Para que volte a sentir o terno açoite

De suas cordas leves e sonoras.

Libere o violão, Dr. Juiz,

Em nome da Justiça e do Direito.

É crime, porventura, o infeliz,

cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, e afinal, será pecado,

Será delito de tão vis horrores,

perambular na rua um desgraçado

derramando na rua as suas dôres?

É o apelo que aqui lhe dirigimos,

Na certeza do seu acolhimento.

Juntando esta petição aos autos nós pedimos

e pedimos também DEFERIMENTO.

Ronaldo Cunha Lima, advogado.

O juiz Arthur Moura sem perder o ponto deu a sentença no mesmo tom:


"Para que eu não carregue
Muito remorso no coração,
Determino que seja entregue,
Ao seu dono, o malfadado violão!“


Fonte: http://historiadaparaiba.blogspot.com/2010/01/habeas-pinho-ronaldo-cunha-lima.html

4 comentários:

Anônimo disse...

È sempre muito bom ler ou ouvir algo inteligente. Melhor ainda se a voz for agradável como essa. clo

Anônimo disse...

Ronaldo é um verdadeiro poeta.Mto lindo e delicioso de se ler.Obrigada.Bjs.Sylvinha.

Euripedes disse...

Delma, mais uma vez. Parabéns, vc merece. Bjs. Euripedes.

Delma disse...

É lindo isso,né?
Bjs