Mudou se para Santa Vitória indo trabalhar na Farmácia N.Sra da Abadia.
Meu pai é o de Jaleco branco e minha mãe, à direita dele, de sapatos brancos.
Pouco tempo depois, transferiu se para outra Farmácia em Cruzeiro dos Peixotos. Morou alguns meses no Rio de Janeiro e resolveu ter a sua própria Farmácia.
Foi então, com toda a sua família e com a família de sua sobrinha Amélia para Cabeleira, município de Rio Verde em Goiás. Geraldo e Amélia, os sobrinhos, montaram uma loja, mas permaneceram por pouco tempo e retornaram a Uberlândia.
Meu pai montou a Farmácia Santo Antônio e creio que ali viveu a melhor fase da sua vida. Com uma experiência de cerca de 35 anos sempre trabalhando em farmácia, ele dominava um vasto conhecimento sobre o assunto. A cidade mais próxima ficava a uns 50km, por estrada de terra. Ele era o dono da única farmácia por aquelas bandas. Alí ele receitava, manipulava fórmulas, fazia pequenos procedimentos cirúrgicos e era parteiro. Seus “pacientes” vinham de longe, a cavalo, de carro de boi, a pé, ou de carona nos poucos veículos que circulavam por lá, (caminhões e raros ônibus). Chegavam e encontravam remédio, comida e pouso. Alguns chegavam a passar dias, esperando “ficá mió” para irem embora. Quando não podiam ir, mandavam bilhetes descrevendo o que sentiam, para que meu pai ministrasse o tratamento. Estes bilhetes eram pitorescos. Diziam. “Sinto uma dor que começa no peito e responde nas costas”, ou “amanheci com difruçu (resfriado), tomei um suadô" (depois de um chá bem quente, deitar debaixo de vários cobertores para transpirar bastante).
A farmácia era ponto de encontro da vizinhança que ia até lá saber das novidades. Meu pai não deixava nunca de ouvir o Repórter Esso pelo rádio e era assinante da Revista O Cruzeiro. Era sempre o mais bem informado da redondeza.
A farmácia era ponto de encontro da vizinhança que ia até lá saber das novidades. Meu pai não deixava nunca de ouvir o Repórter Esso pelo rádio e era assinante da Revista O Cruzeiro. Era sempre o mais bem informado da redondeza.
Era muito popular entre os vizinhos. Apadrinhou inúmeras crianças e casamentos Foi eleito vereador na década de 50 para a Câmara Municipal de Rio Verde, pelo PSD. Adorava política e era fã incondicional de Juscelino Kubitschek. Era bem humorado, adorava contar piadas. Apreciava como ninguém um vinho tinto e seco. E não era raro ultrapassar o limite da sobriedade.
Meu pai era uma figura! Andava de chapéu e quando colocava o paletó é porque estava com seu revólver na cintura. Nunca matou uma mosca. Lá era comum a Raiva – "a doença do cachorro louco". E quando acontecia, tinha que sacrificar o cachorro. Sempre havia um “especialista” para fazer o serviço. Uma vez, meu pai foi tentar, mas não conseguiu. Disse que o cachorro fixou o olhar lacrimejante nele como se estivesse a implorar que não o matasse.
Meu pai era uma figura! Andava de chapéu e quando colocava o paletó é porque estava com seu revólver na cintura. Nunca matou uma mosca. Lá era comum a Raiva – "a doença do cachorro louco". E quando acontecia, tinha que sacrificar o cachorro. Sempre havia um “especialista” para fazer o serviço. Uma vez, meu pai foi tentar, mas não conseguiu. Disse que o cachorro fixou o olhar lacrimejante nele como se estivesse a implorar que não o matasse.
Tinha uma maneira muito peculiar de administrar seus negócios. Não dava a mínima para o dinheiro. Dinheiro era feito para gastar, jamais para guardar. Tinha uma gaveta numa escrivaninha na farmácia, sem chave, onde ele ia colocando o dinheiro recebido. Tinhamos trânsito livre para essa gaveta. Vendia medicamentos para alguns clientes que só podiam pagar após a colheita. Anotava em um caderno. Joaquim, Antônio, Manoel, Pedro, etc...Sua compra e o valor. De vez em quando minha mãe ia ajudá-lo na Contabilidade. Quase todos os moradores da região tinham estes nomes. Daí, ela perguntava, Quem é esse Joaquim? E esse Pedro? Etc. Ele não se lembrava. Se o devedor não fosse lá pagar, as anotações acabavam indo para o lixo, pois não tinha como cobrar.
Tivemos uma infância de muita fartura. Havia gêneros que ele comprava por atacado, como as Salsichas Viena, a Bala Menta, e outras coisas que faziam a nossa felicidade.
Era devoto de Santo Antônio e na véspera (12 de junho) fazia uma grande Festa para comemorar, com tudo de uma autêntica Festa Junina. O Têrço puxado pela minha mãe, o levantamento do mastro com os 3 santos, a Fogueira, as comidas típicas, o arrasta-pé que varava a noite com viola e sanfoneiro e os fogos de artifício que iam de Uberlândia Todos os rituais eram cumpridos. As simpatias para as moças arranjarem casamento,os batismos na fogueira e até andar descalço sobre as brasas.
Dos seus 12 irmãos, apenas 3 eram mulheres. Uma delas, Maria morava no Rio de Janeiro e, praticamente não tinha contato com ela. As outras duas, Isaura e Rosinha moravam aqui em Udi e depois que ele passou a morar aqui, fizesse chuva ou sol, ele atravessava a cidade diariamente para vê-las. Ele venerava as irmãs. Uma coisa bonita essa amizade e carinho que tinha entre eles. Raro hoje. Acho que chego a passar 6 meses sem ver meu irmão que mora aqui.
Meu pai era amoroso e cordial, porém quando não gostava de uma pessoa....Valha me Deus, não falava nem o nome.
Era muito inteligente, bem informado, tinha uma memória invejável.
Para que pudéssemos estudar além do curso primário tivemos que nos mudar para Uberlândia. Meus irmãos vieram primeiro, depois minha mãe veio comigo e minha irmã. Meu pai ainda ficou lá em Goiás até vender a casa e a farmácia..
Comprou uma farmácia aqui em Udi, mas conseguiu mantê-la por pouquissimo tempo. As regras eram outras. Acostumado a manter um estoque de medicamentos, que ele mesmo receitava e eram suficientes para combater todas as doenças, deparou com uma situação completamente diferente em que tinha que manter um estoque variadissimo para atender inúmeros receituários para tratar uma mesma doença. Aliado a isso, suas funções se resumiam a venda do produto, diferente do que ele fazia em Goiás.
Vendeu a famácia, tentou outras atividades, parou de usar o revolver, o paletó e o chapéu , não cuidou do Diabetes, se excedeu na bebida até que, no dia 26 de julho de 1976, sofreu um infarto fulminante e faleceu no Consultório do Dr. Ney.
Uma música que me faz lembrar meu pai é Luar do Sertão.
Muito pequena, lembro dele cantando esta música.
Este video é de Marlene Dietrich cantando Luar do Sertão em Português , em um show no Rio de Janeiro em 1959.
6 comentários:
Que emoção Delma, ao ler o que vc descreveu um passado já bem distante da vida de vcs quando moravam em Goiás, tio Jorge com aquela pureza de alma, doce humildade, sempre muito caridoso com todos e tia Esther, maravilhosa mulher, grande companheira e lutadora,boa mãe, dedicada e querida por todos. Jamais esqueceremos pessoas tão generosas ,marcantes em nossas vidas. Marlene Dietrich cantando a música Luar do Sertão, complementou a saudade daqueles tempos vividos que estamos a comentar. A nossa familia saudosa, a voz e o violão do tio Walter que gostava muito de cantar esta canção.- Bjos. - Cristina
Tia Delma.... que alegria poder descobrir de forma tão encantadora um passado que eu não conhecia :) mas sempre temos tempo de conhecer nossas raizes, fico feliz e obrigada pela oportunidade, Iara.
Entre as muitas lembranças da nossa infância, uma em especial me enche de saudade (uma saudade alegre, de coisa boa!): O papai chegando tarde da noite de Rio Verde, de táxi, com uma botija térmica cheia de sorvete, lembra? Mamãe teve que nos tirar da cama para tomar o sorvete antes que derretesse. Foi uma festa!
Terezinha
Penso que, do passado, devemos guardar apenas as lembranças boas.Servem de estímulo para o presente.
Delma, sou escritor, moro em Santa Vitória e estou escrevendo nossa história. Gostaria que confirmasse o ano que seu pai trabalhou nesta farmácia aqui em Santa Vitória.
Marcio José Silva, meu pai morou em Santa Vitoria e trabalhou na Farmácia a partir de Julho de 1937. Sei que em julho de 1938 quando meu irmão mais velho nasceu, eles ainda moravam aí .
Espero ter ajudado.
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