Filha de José Ribeiro Pereira e Gracinda Emilia, nasceu no dia 19 de julho de 1913 em Uberaba-Mg. Era muito bonita, alta, pele bem clara (cuidada com leite de colônia) e olhos azuis intensos. As fotos acima comprovam esta descrição.
Fez só o curso primário e bem jovenzinha começou a ser preparada para as prendas domésticas e habilidades reservadas às mulheres. Habilidosa, orgulhava-se de ter feito Curso de Corte e Costura.
Em 1937 comprou sua máquina de costura - Pfaff, que está comigo e funciona. Pagou em 40 parcelas e os recibos são dignos de registro.
Explico: este recibo da foto é de 100 mil réis, no mês em que a parcela foi de 75 mil réis, os valores superiores a este valor foram cortados. Dá prá entender uma coisa dessa.? Não era mais fácil escrever o valor da parcela?
Casou-se no dia 27 de julho de 1937 , com Jorge Fonseca e Silva, meu pai.
Morou em Santa Vitória, Cruzeiro dos Peixotos, Cabeleira no município de Rio Verde em Goiás e retornou para Uberlândia em 1958. Teve 6 filhos de 1938 a 1953, todos de parto normal e com parteira.
Meus irmãos: Waldir, Walter, José Ricardo, Terezinha e Jorge Luiz
Depois do nascimento da minha irmã Terezinha em 1945, meus pais mudaram-se para uma localidade chamada Cabeleira no município de Rio Verde em Goiás, onde minha mãe contou com ajuda de pessoas que acabaram se tornando membros da família: Luzia, Geny e Isabel.
Este bordado à máquina foi feito por ela e fez parte do seu enxoval. Tem mais de 70 anos.
Este é um caminho de mesa, bordado à mão por ela e também foi peça do seu enxoval.
Esta é uma colcha de crochê de lã que ela fez para mim.
Esta toalha de crochê também foi feita para mim.
Este trabalho chama-se Tenerife. A lã é colocada numa grade com preguinhos, amarrada com Linha de Seda e recortada para terminar. Aprendi com minha mãe e fiz para o enxoval da minha irmã. (Isto é incrível!)
Esta renda chama se Frivolitê. É feita com uma navete de plástico. Como eu não tenho nenhuma feita por mamãe, fotografei esta feita por D. Cezarina Santos para a minha irmã.
Acho que eu tinha uns 8 anos, aprendi com mamãe a fazer uma renda chamada Filé. Enrolava linha de costurar num lápis e ia amarrando os pontos, formando um círculo e aumentando a roda. Fiquei com um jogo de seis forrinhos feitos por nós e por mamãe e fui procurar para fotografar e....(devo ter doado para alguém). Não achei na Internet. Este da foto foi identificado como crochê. Mas o Filé é muito parecido com este. O nosso não tinha essa flor no centro. Era engomado e quando passava ficava bem repolhudo.
Mamãe fazia flores de tecido. Fez as grinaldas e buquês de muitas noivas em Goiás. Ela tinha os moldes de flores variadas, o boleador para moldar as pétalas e a prensa para as folhas.
(Esta foto é da Net. )
O tricô era mais uma da habilidades de minha mãe. Ela sabia vários pontos e fez muitos sapatinhos, casaquinhos, etc. Todos nós aprendemos a tricotar. Até meu irmão que foi pego encondido atrás da porta, tricotando. Teve que aguentar a gozação dos irmãos mais velhos por muito tempo. (Foto da Net)
Este é o Fuxico. Minha mãe fez uma colcha prá mim. Não a tenho mais. Quem era craque na arte do Fuxico era a irmã de mamãe, a Tia Emília. Ela fazia em cetim, formando desenhos geométricos. Mamãe fazia outros trabalhos com retalhos, o Patchwork. Já tive cobre-leito e tapetes feitos por ela. (Foto da Net)
Este é o Macramê. Eu tinha um Panô e uma sacola. Doei. Deve ter sacola feita por ela com alguém da família. Ela gostava muito de fazer. (Foto da Net)
Este é um Bordado chamado Vagonite. Mamãe bordou um barrado numa saia para mim. Foi muito usado em roupas. Hoje é mais usado em panos de prato. (Foto da Net)
Mamãe fez questão de presentear todas as 8 netas com uma colcha de crochê feita por ela. Fez 7 colchas, porque não conseguiu terminar a oitava. Quando adoeceu, uma de suas preocupações era não conseguir terminar a última colcha, a da Cíntia. Quando uma das netas escolheu a cor preta, apesar do inusitado, fez a colcha com carinho e respeitou a escolha.
Minha mãe tinha uma disposição incrível para o trabalho. Não sei como conseguia fazer tantas coisas. Além do cuidado com a casa, cozinhava em fogão de lenha, a água era puxada da cisterna, tudo era feito em casa, e ela fazia sempre – doces, quitanda, cuidava de 6 filhos, costurava, ajudava meu pai na farmácia, tinha as alunas que citei acima. E, tinha um tempo prá nós, que eu acredito que as mães de hoje não tem. Fazer vestidinhos para as bonecas, além de fazer bonecas de pano. Faziamos comidinha debaixo das mangueiras com a supervisão dela, porque cozinhavamos de verdade. Havia as visitas, que nunca tinham pressa. A distância era longa, às vezes iam a cavalo, então as conversas se prolongavam por toda tarde.
Para obter carne, meu pai comprava porco vivo, que era todo preparado em casa. Tinha trabalho para o dia inteiro e pra todo mundo. Carne, torresmo, banha, linguiça, bucho cheio, chouriço, até a feitura do sábão de coada, nos dias que se seguiam à matança do porco.
A pamonhada feita de 6 sacos de milho também durava um dia inteiro. Começava ali pelas 6 horas da manhã e terminava à noite. Além da comilança de quem fez e ajudou a fazer, vinham os vizinhos convidados que comiam e levavam pra casa. Não tinhamos geladeira, então se não consumisse, estragava. Mas fazer pouca pamonha era impensável.
Minha mãe era exigente, brava mesmo. Fazia o contraponto com o meu pai. Onde ele era libertário, ela exercia um pouco o papel de xerife.
Tinha um modo de ser muito diferente do que eu sou, por exemplo. Era obcecada pelo cumprimento do dever, do fazer, do trabalhar. Não se permitia o ócio, o lazer, o prazer, o “laissez faire” Não me lembro dela comprando uma roupa ou qualquer objeto por vaidade. Contentava-se com o que recebia de presente. Não se permitia extravagâncias nem para comer. Assistia Tv, fazendo crochê e acabava cochilando sentada. Sugeríamos então, que ela deitasse um pouquinho, imediatamente se recompunha e voltava à linha e agulha e dizia, se eu deitar eu não durmo. Na verdade, ela não se permitia “curtir uma preguicinha”.
Nossa mudança de Goiás para Uberlândia, teve um objetivo que, para ela, era indiscutível – estudo dos filhos. Nem precisava fazer curso superior, mas tinha que fazer o Curso de Contabilidade, garantido no Liceu de Uberlândia, para onde fomos todos encaminhados. Trouxe conosco, um afilhado – o Benedito, e apesar da sua insistência para que estudasse, ele preferiu sair da nossa companhia. Foi uma grande frustração para ela.
Seu lema de vida era “servir” e “cuidar”. Cuidou do marido, de cunhados, afilhados, dos filhos e dos netos com muit0 carinho e responsabiidade. Fazia a comida predileta de cada um, cuidava dos netos para que os filhos pudessem viajar, sair à noite, trabalhar, etc. Onde precisasse dela, era certa sua presença. Viveu comigo os seu últimos 15 anos de vida. Durante os 3 primeiros anos, vivia em casa separada, nos fundos da minha casa. Após a morte do papai, passou a viver junto conosco. E, mais do que nunca, ela se anulou em função da minha vida. Preferia que tivesse sido diferente. Que seus interesses, motivações e desejos não fossem tão interligados conosco. Tudo que ela passou a fazer, girava em torno de nós. Assumiu a cozinha e o cuidado com meus filhos. Ela foi meu braço direito, meu braço esquerdo, "meu Sul e meu Norte". Eu saia para trabalhar, passear, viajar com a alma leve, sem preocupações porque ela estava lá: cuidando melhor do que eu dos meus filhos, da minha casa e de tudo. Meus filhos foram privilegiados porque, além dos pais, contaram até a adolescência, com o desvelo e carinho imensurável da avó. Inesquecível para eles,
O Pão Hungaro,
A Pipoca Doce e as Rosquinhas Glaçadas