terça-feira, 25 de maio de 2010

Circuito Doble em Uberlândia

Na quinta-feira dia, 20 de maio 2010, fui até a praça Clarimundo Carneiro assistir a primeira parte do Circuito Double de Dança onde a Companhia de Dança SESIMINAS, de Belo Horizonte, apresentou a coreografia "Construção".

A44J2762_caixa_mult


Estacionamos na Av. Afonso Pena e enquanto nos dirigíamos para a Praça, comentei com o Eurípedes sobre como Uberlândia mudou. Ha quarenta anos eu passava por alí para ir à Faculdade de Filosofia ( no antigo Colégio N. Senhora) e havia um grande movimento de pessoas indo e vindo, os estabelecimentos comerciais com as luzes acesas, mantinham a avenida alegre e movimentada. Hoje, tudo escuro, muitos carros nas ruas e pouquissimas pessoas à pé. A nostalgia tomou conta de mim e quando começou a apresentação me emocionei e meu coração nostálgico se encheu de alegria porque a coreógrafa, além da música Construção, utilizou canções dos grandes festivais dos anos 60 e 70 que acompanhamos, torcemos, vibramos e determinaram nosso gosto musical. As músicas: Alegria, Alegria; Ponteio; Para Lennon e McCarthney; João e Maria, A Banda e Sabiá, me fizeram lembrar uma época importante da minha vida, quando saltei da despreocupada adolescência para a consciência de que o sonho não havia acabado, mas não era tão colorido e por longo tempo seria vivido em preto e branco.

Chico Buarque com seus olhos "cor de ardósia", despertou em todas nós, meninas moças da década de 60, muita admiração e paixão.

A música Construção de 1971 narra os últimos momentos da vida de um operário. Chico chegou próximo da unanimidade com esta música. A letra primorosa, que alterna rimas em proparoxítonas, chegou a receber uma agressão de péssimo gosto de David Nasser que sugeriu a inclusão de mais uma proparoxítona, “ Médici,” o presidente da época. Conta-se que o advogado da Philips, ao entregar a letra para os censores, usou nova estratégia e pediu que a proibissem. Para contrariá-lo, liberaram sem cortes.

sesiminas_04_caixa_mult

“Alegria, Alegria” de Caetano Veloso não foi coreografada, mas fez parte do espetáculo. Esta música, 4º lugar no Festival Record de 1967, remete ao Cinema Novo com letra-câmera-na-mão, pois possui ritmo cinematográfico. Chocou os tradicionalistas mas caiu no gosto popular. Este festival é inesquecível para mim. A primeira pessoa a defender “Alegria, Alegria” foi Cristina Ribeiro, aluna da História, com lugar cativo na sede do Diretório Acadêmico, onde eu a ouvi dizendo: esta música é a melhor de todas. Os corredores, escadas e rampas da faculdade foram o palco da nossa cantoria da música mais fácil de cantar - “Belinha” de Toquinho, defendida por Wilson Simonal. “Ponteio” de Edu Lobo, cantada por ele e por Marilia Medalha, uma das músicas do espetáculo acima, era cantada por nós e executada ao piano pela Sandra Santos (toda vez que eu digo isso, ela me pergunta se era Ponteio de Camargo Guarnieri), quando as freiras liberavam o auditório onde tinha o piano. Foi o festival de “Domingo no Parque” de Gilberto Gil que contou com a apresentação dos Mutantes (Rita Lee), “Maria, Carnaval e Cinzas” defendida por Roberto Carlos (tenho um compacto em vinil desta música, presente das companheiras de torcida), “Beto bom de bola” do Sergio Ricardo que diante das vaias quebrou o violão e jogou na platéia depois de dizer “Vocês ganharam! Vocês ganharam! Mas isso é o Brasil não desenvolvido. Vocês são uns animais!”. E o Chico, que não podia faltar, com “Roda Viva” obteve o 3º lugar. Dia de festival era práticamente dia sem aula. Prova, nem pensar. O negócio era correr prá casa e assistir na antigona Tv em preto e branco, com chuvisco e som ruim as nossas músicas prediletas.

“João e Maria” - esta música de Sivuca (1947) recebeu letra de Chico Buarque. Sivuca não entendeu a frase “o meu cavalo só falava inglês” então perguntou o significado a Francis Hime que arriscou “ Eu acho que era um cavalo muito educado”.

“A Banda” – Uma das Vencedoras do II Festival da MPB em 1966, polarizou as torcidas pelas favoritas “Disparada” (Vandré) e “A Banda.” Na final dia 10/10/66, Chico propôs o empate, ameaçando não ir receber o prêmio sozinho. Decidiram dar o 1º lugar para as duas. O resultado verdadeiro 7 a 5 para “A Banda” só foi revelado quase 40 anos depois por Zuza Homem de Mello, que mantinha o cofre com o resultado na sua casa. Carlos Drummond de Andrade dedicou uma crônica à Banda e até Nelson Rodigues exaltou a canção. A esquerda que insistia em ouvir músicas de protesto via no lirismo e singeleza da Banda um retrocesso. Chico diz que a retomada ao lirismo foi proposital, pois ele não era assim tão inocente.

sesi_minas_01_caixa_mult circuito_ok_caixa_mult

Sabiá – Música de Tom Jobim e letra de Chico Buarque foi inscrita no III Festival Internacional da Canção em 1968. Neste festival Caetano Veloso competiu com “É Proibido Proibir” e, muito vaiado, teve que interromper a apresentação e disse “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado?” e ainda recusou o 5º lugar em solidariedade a Gilberto Gil que não classificou “Questão de Ordem.” Na final, a disputa ficou com “Prá não dizer que não falei das flores,” de Vandré e Sabiá, interpretada por Cynara e Cybele. “Sabiá” foi a vencedora sob intensa vaia. Vandré, o segundo lugar dizia: “Gente, vocês não me ajudam desrespeitando Chico e Tom.” Chico estava na Itália, e Tom confessa que chegou a chorar por causa das vaias. Sabiá venceu a fase internacional com vaias e muitos aplausos.

O espetáculo termina com “Para Lennon e McCarthney” de Milton Nascimento e eu volto para casa com uma saudade de um tempo em que nossos ídolos faziam MÚSICAS que são capazes de emocionar mesmo 40 anos depois.

circ_double_pc_caixa_mult

Fontes: Wagner Homem (Chico Buarque); http://www.candangocantador.com.br/festivais1967_record.php ; sites variados sobre MPB, que esqueci de anotar para publicar aqui.

2 comentários:

Anônimo disse...

Qualquer outra palavra aqui será insignificante diante da beleza e emoção do que Você escreveu.
Beijos, Alcy

Delma disse...

Quando revemos coisas que nos fazem lembrar belas passagens da nossa vida sentimos a alma leve e feliz.
Bjs