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quarta-feira, 23 de março de 2011

Maria Bethânia e o Blog


O ministério da Cultura justificou a aprovação de um projeto para um site de poesia da cantora Maria Bethânia, que prevê captação de R$ 1,3 milhão pela Lei Rouanet.

Nesse caso, o projeto pode receber dinheiro de empresas por meio de renúncia fiscal, ou seja, parte do valor do patrocínio é abatido de imposto de renda devido.

Segundo o MinC, a "aprovação, que seguiu estritamente a legislação, não garante, apenas autoriza a captação de recursos junto à sociedade".

O projeto da cantora é o site O Mundo Precisa de Poesia, que teria um vídeo diário da cantora interpretando um poema. A direção dos vídeos seria do cineasta Andrucha Waddington.

A aprovação gerou polêmica e até um blog falso de Bethânia foi criado.

Leia a íntegra da nota

O Ministério da Cultura informou que:

Os critérios da CNIC são técnicos e jurídicos; assim, rejeitar um proponente pelo fato de ser famoso, ou não, configuraria óbvia e insustentável discriminação;

Todas as reuniões deliberativas da CNIC têm transmissão em áudio em tempo real pelo site do MinC (http://www.cultura.gov.br/ ), acessível a qualquer cidadão.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Árvore

Este post não é sobre a árvore da , é sobre outra árvore e uma poesia de Manoel de Barros, que o Du postou no seu comentário e gostei muito. Ilustrei com a foto da árvore da porta da minha casa. Lindas! A árvore e a poesia.

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Manoel de Barros

“Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de sol,
de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul
E descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
e tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos. Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore porque fez amizade com muitas borboletas. ( E.F. pag. 63)

Ensaios fotográficos é o décimo segundo livro de Manoel de Barros. Nele o autor mistura árvores com Bach, une Maiakovski a pássaros, mescla Shakespeare e Buson aos seus pequenos seres, combina Rabelais com pedras, exercitando todo seu talento e sensibilidade. Manoel de Barros utiliza a imagem e a fotografia como meio para a busca do instante-nada das coisas. Para tanto, encarna um fotógrafo que retrata o silêncio, o perfume, o vento, constatando: "Hoje eu atingi o reino das imagens, o reino da despalavra". EF

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Vou me Embora pro Passado -Jessier Quirino

Jessier Quirino - Arquiteto por profissão, poeta por vocação, matuto por convicção.  É paraibano e, como eu disse, quando estive em João Pessoa,  a Paraíba é terra de poetas.

Jessier declama uma de suas poesias “Vou me embora pro passado”, onde fala de coisas que ele não viveu, dada a sua idade, mas nós vivemos e sempre é bom recordar.

Jessier Quirino

Vou-me embora pro passado

Jessier Quirino
"No rastro da Bandeira de Manuel"

Vou-me embora pro passado
Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas "daqui, ó!"
Roy Rogers, Buc Jones
Rock Lane, Dóris Day
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Porque lá, é outro astral
Lá tem carros Vemaguet
Jeep Willes, Maverick
Tem Gordine, tem Buick
Tem Candango e tem Rural.
Lá dançarei Twist
Hully-Gully, Iê-iê-iê
Lá é uma brasa mora!
Só você vendo pra crê
Assistirei Rim Tim Tim
Ou mesmo Jinne é um Gênio
Vestirei calças de Nycron
Faroeste ou Durabem
Tecidos sanforizados
Tergal, Percal e Banlon
Verei lances de anágua
Combinação, califon
Escutarei Al Di Lá
Dominiqui Niqui Niqui
Me fartarei de Grapette
Na farra dos piqueniques
Vou-me embora pro passado.
No passado tem Jerônimo
Aquele Herói do Sertão
Tem Coronel Ludugero
Com Otrope em discussão
Tem passeio de Lambreta
De Vespa, de Berlineta
Marinete e Lotação.
Quando toca Pata Pata
Cantam a versão musical
"Tá Com a Pulga na Cueca"
E dançam a música sapeca
Ô Papa Hum Mau Mau
Tem a turma prafrentex
Cantando Banho de Lua
Tem bundeira e piniqueira
Dando sopa pela rua
Vou-me embora pro passado.
Vou-me embora pro passado
Que o passado é bom demais!
Lá tem meninas "quebrando"
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a Pó de Arroz
Da Cachemere Bouquet
Coty ou Royal Briar
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho.
E lá no cinema Rex
Se vê broto a namorar
De mão dada com o guri
Com vestido de organdi
Com gola de tafetá.
Os homens lá do passado
Só andam tudo tinindo
De linho Diagonal
Camisas Lunfor, a tal
Sapato Clark de cromo
Ou Passo-Doble esportivo
Ou Fox do bico fino
De camisas Volta ao Mundo
Caneta Shafers no bolso
Ou Parker 51
Só cheirando a Áqua Velva
A sabonete Gessy
Ou Lifebouy, Eucalol
E junto com o espelhinho
Pente Pantera ou Flamengo
E uma trunfinha no quengo
Cintilante como o sol.
Vou-me embora pro passado
Lá tem tudo que há de bom!
Os mais velhos inda usam
Sapatos branco e marrom
E chapéu de aba larga
Ramenzone ou Cury Luxo
Ouvindo Besame Mucho
Solfejando a meio tom.
No passado é outra história!
Outra civilização...
Tem Alvarenga e Ranchinho
Tem Jararaca e Ratinho
Aprontando a gozação
Tem assustado à Vermuth
Ao som de Valdir Calmon
Tem Long-Play da Mocambo
Mas Rosenblit é o bom
Tem Albertinho Limonta
Tem também Mamãe Dolores
Marcelino Pão e Vinho
Tem Bat Masterson, tem Lesse
Túnel do Tempo, tem Zorro
Não se vê tantos horrores.
Lá no passado tem corso
Lança perfume Rodouro
Geladeira Kelvinator
Tem rádio com olho mágico
ABC a voz de ouro
Se ouve Carlos Galhardo
Em Audições Musicais
Piano ao cair da tarde
Cancioneiro de Sucesso
Tem também Repórter Esso
Com notícias atuais.
Tem petisqueiro e bufê
Junto à mesa de jantar
Tem bisqüit e bibelô
Tem louça de toda cor
Bule de ágata, alguidar
Se brinca de cabra cega
De drama, de garrafão
Camoniboi, balinheira
De rolimã na ladeira
De rasteira e de pinhão.
Lá, também tem radiola
De madeira e baquelita
Lá se faz caligrafia
Pra modelar a escrita
Se estuda a tabuada
De Teobaldo Miranda
Ou na Cartilha do Povo
Lendo Vovô Viu o Ovo
E a palmatória é quem manda.
Tem na revista O Cruzeiro
A beleza feminina
Tem misse botando banca
Com seu maiô de elanca
O famoso Catalina
Tem cigarros Yolanda
Continental e Astória
Tem o Conga Sete Vidas
Tem brilhantina Glostora
Escovas Tek, Frisante
Relógio Eterna Matic
Com 24 rubis
Pontual a toda hora.
Se ouve página sonora
Na voz de Ângela Maria
"— Será que sou feia?
— Não é não senhor!
— Então eu sou linda?
— Você é um amor!..."
Quando não querem a paquera
Mulheres falam: "Passando,
Que é pra não enganchar!"
"Achou ruim dê um jeitim!"
"Pise na flor e amasse!"
E AI e POFE! e quizila
Mas o homem não cochila
Passa o pano com o olhar
Se ela toma Postafen
Que é pra bunda aumentar
Ele empina o polegar
Faz sinal de "tudo X"
E sai dizendo "Ô Maré!
Todo boy, mancando o pé
Insistindo em conquistar.
No passado tem remédio
Pra quando se precisar
Lá tem Doutor de família
Que tem prazer de curar
Lá tem Água Rubinat
Mel Poejo e Asmapan
Bromil e Capivarol
Arnica, Phimatosan
Regulador Xavier
Tem Saúde da Mulher
Tem Aguardente Alemã
Tem também Capiloton
Pentid e Terebentina
Xarope de Limão Brabo
Pílulas de Vida do Dr. Ross
Tem também aqui pra nós
Uma tal Robusterina
A saúde feminina.
Vou-me embora pro passado
Pra não viver sufocado
Pra não morrer poluído
Pra não morar enjaulado
Lá não se vê violência
Nem droga nem tanto mau
Não se vê tanto barulho
Nem asfalto nem entulho
No passado é outro astral
Se eu tiver qualquer saudade
Escreverei pro presente
E quando eu estiver cansado
Da jornada, do batente
Terei uma cama Patente
Daquelas do selo azul
Num quarto calmo e seguro
Onde ali descansarei
Lá sou amigo do rei
Lá, tem muito mais futuro
Vou-me embora pro passado

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Vento Mistral - Kássia Reis

O Vento Mistral


O vento mistral
Trouxe-me, hoje, você
Quando inebriou de lavanda
Meu amanhecer

Este aroma que é seu
Reavivou a memória
Aqueceu minha alma
Neste frio tão intenso

E as flores miúdas
Salpicaram as lembranças
De um lilás delicado
De tão belas matizes

Um sagrado momento
Um quadro encantado
Dotado de vida
Cores e cheiros

Meus sentidos atentos
Cúmplices do vento
Pintaram a tela
Traduziram você

Fonte: http://kassiareis.blogspot.com/

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Antônio Carlos Andrade, o poeta

 

Yuri Lopes Brito (2)

Sr Antônio, tio da Raquel, partiu hoje para se encontrar pessoalmente com Deus. Enquanto esteve por aqui, registrou, em poema, sua procura e descoberta. 

Deus

Antônio Carlos de Andrade

 

Passei muitos anos a Tua procura,

Olhava para o céu mas não Te via,

Só via sol, estrelas e noite escura,

E também água, quando chovia.

 

Eu sempre pensava comigo mesmo:

Será que Tu existes no imenso Universo?

E meu pensamento vagando a esmo,

Te procurando neste mundo adverso.

 

Te procurei nas religiões e nos templos,

Tu também não estava lá; tudo em vão,

Te busquei através de alguns exemplos,

Não te encontrei; foi somente desilusão.

 

Sentindo desiludido e cansado, descri,

E na descrença tropecei e fui ao chão,

Porque fiquei desequilibrado, tonto e caí,

Mas fui socorrido por um amigo cristão.

 

No socorro encontrei amor e amizade,

Nesse encontro vi um mundo novo nascer,

E no mundo novo encontrei a verdade,

E foi por essa verdade que vim a crer.

 

Que não era distante onde Tu estavas,

E passei a ter uma crença sem fim.

Descobri onde Tu moravas,

Era deveras comigo, era dentro de mim.

10/11/2006

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Paraíba - Habeas Pinho – Ronaldo Cunha Lima

Em 1955 em Campina Grande, na Paraíba, um grupo de boêmios fazia serenata numa madrugada do mês de junho, quando chegou a polícia e apreendeu o violão. Decepcionado, o grupo recorreu aos serviços do advogado Ronaldo Cunha Lima, então recentemente saído da Faculdade e que também apreciava uma boa seresta. Ele peticionou em Juízo, para que fosse liberado o violão.

Aquele pedido ficou conhecido como "Habeas Pinho" e enfeita as paredes de escritórios de muitos advogados e bares de praias no Nordeste.

Mais tarde, Ronaldo Cunha Lima foi eleito Deputado Estadual, Prefeito de Campina Grande, Senador da República, Governador do Estado e Deputado Federal


Clemente Drago recita o poema numa versão diferente da que eu encontrei na fonte citada abaixo. No final o nome do Juiz é outro e os versos também são diferentes. Considero, então...

Habeas Pinho apresentado com “licença poética”

Eis a famosa petição.

HABEAS PINHO

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 2ª Vara desta Comarca :

O instrumento do crime que se arrola

Neste processo de contravenção

Não é faca, revólver nem pistola.

É simplesmente, doutor, um violão.

Um violão, doutor, que na verdade

Não matou nem feriu um cidadão.

Feriu, sim, a sensibilidade

De quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,

Instrumento de amor e de saudade.

Ao crime ele nunca se mistura.

Inexiste entre eles afinidade.

O violão é próprio dos cantores,

Dos menestréis de alma enternecida

Que cantam as mágoas e que povoam a vida

Sufocando suas próprias dores.

O violão é música e é canção,

É sentimento de vida e alegria,

É pureza e néctar que extasia,

É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório,

Porém seu destino se perpétua.

Ele nasceu para cantar na rua

E não para ser arquivo de Cartório.

Mande soltá-lo pelo Amor da noite

Que se sente vazia em suas horas,

Para que volte a sentir o terno açoite

De suas cordas leves e sonoras.

Libere o violão, Dr. Juiz,

Em nome da Justiça e do Direito.

É crime, porventura, o infeliz,

cantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, e afinal, será pecado,

Será delito de tão vis horrores,

perambular na rua um desgraçado

derramando na rua as suas dôres?

É o apelo que aqui lhe dirigimos,

Na certeza do seu acolhimento.

Juntando esta petição aos autos nós pedimos

e pedimos também DEFERIMENTO.

Ronaldo Cunha Lima, advogado.

O juiz Arthur Moura sem perder o ponto deu a sentença no mesmo tom:


"Para que eu não carregue
Muito remorso no coração,
Determino que seja entregue,
Ao seu dono, o malfadado violão!“


Fonte: http://historiadaparaiba.blogspot.com/2010/01/habeas-pinho-ronaldo-cunha-lima.html

segunda-feira, 28 de junho de 2010

José Saramago

Saramago faleceu no dia 18 de junho 2010 aos 87 anos.






















Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos
de morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e
entra em nós uma grande serenidade,
e dizem-se as palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra
e apertamo-la nas mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável:
o contorno, a vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres,
com a paz e o sorriso de quem se reconhece
e viajou à roda do mundo infatigável,
porque mordeu a alma até aos ossos dela.
Libertemos devagar a terra
onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

José Saramago

Fonte:

domingo, 4 de abril de 2010

Olhar Sitiado - Leide Moreira


No dia 28/02/2010 fiz uma postagem sobre o filme " O Escafandro e a Borboleta" e hoje, leio em reportagem da Folha de São Paulo que a advogada e escritora Leide Moreira se comunica e escreve poesias usando os olhos, como fazia o jornalista francês Jean-Dominique Bauby (personagem do filme e autor do livro homônimo) e como faz também Stephen Hawking, físico britânico.

Na foto Leide Moreira e as atrizes Chris Couto e Fernanda D'Umbra, de xadrez - que fizeram leitura de trechos da sua obra - e os filhos Leide Moreira Jacob (37), produtora cultural, e Cesar Sandoval Moreira Jr. (39), psicólogo.(Revista Caras - Edição 787 - Ano 15 - Número 49)

OLHAR SITIADO
Julliane Silveira - Folha de São Paulo - 04/04/2010 - Saúde


"Ao lado dela, há alguém para mexer suas pálpebras para cima e para baixo o tempo todo. A cada 15 minutos, é preciso pingar um colírio para hidratar os olhos de Leide Moreira.
A maior preocupação dos que rodeiam essa advogada e escritora de 62 anos é manter sua vista intacta: seus olhos são seu meio de comunicação, desde que desenvolveu esclerose lateral amiotrófica, há cinco anos.
A doença degenera os neurônios responsáveis pelos movimentos dos músculos, levando-os à paralisia. Hoje, permanecem só os deslocamentos bilaterais dos globos oculares.
Leide leva o olhar para um sinal positivo ou negativo do polegar de seu interlocutor e, assim, expõe sua opinião, orienta funcionárias, escreve poesias. Sua consciência está perfeita.
O primeiro sintoma da doença foi a perda da força da mão direita. Um dia, em novembro de 2004, ela passou a achar mais difícil lavar os cabelos, dar partida no carro, pegar o garfo e abrir a porta de casa. Até então, a rotina era intensa: coordenava o setor jurídico da empresa de marketing cultural da família e corria diariamente.
Três meses depois, havia perdido a mobilidade de todo o braço direito. Um ortopedista indicou um protetor de pescoço, acreditando que poderia ser algum problema de coluna.
Em agosto de 2005, Leide já estava na cadeira de rodas. Amigos indicaram um especialista em doenças neuromusculares e foi feita uma série de investigações. Parentes enviaram o histórico da doença dela a pesquisadores no exterior, em busca de um diagnóstico .
"Foi um desespero total quando soube do que se tratava. Eu sempre cuidei da saúde, ia ao cardiologista, ginecologista todos os anos", diz.
A filha de Leide, que herdou o mesmo nome da mãe, conta que a família entrou na fase do "vale tudo". "Era chazinho, benzedeira, centro espírita... Esse primeiro momento foi muito violento, tivemos de lidar com perdas quase diárias."
Quando a dificuldade para engolir aumentou, Leide passou por uma gastrostomia (comunicação direta do estômago com o exterior). Depois, passou a respirar com a ajuda de aparelhos. Em novembro, teve de se submeter a uma traqueostomia (criação de um orifício artificial na traqueia para facilitar a respiração).
Nessa época, a fala também foi ficando mais difícil. A voz ficou rouca e desapareceu.

Tabela
A comunicação passou a ser feita pelo olhar. Nos primeiros meses, as respostas de Leide se limitavam a sim ou não, indicados pela direção das íris. Após pesquisas, os filhos descobriram a tabela desenvolvida para portadores da doença, formada por seis colunas, em que as letras do alfabeto e as palavras mais usadas em seu dia a dia (como dormir, silêncio e frio) são dispostas em 13 linhas.
Letra por letra, Leide forma palavras e frases. A confirmação vem de perguntas de quem porta a tabela. "Na primeira coluna?" "Quarta linha?" Dois olhares para o polegar que faz sinal de positivo indicam que a palavra começa com s.
"Quando rolou a primeira palavra, foi ótimo. Imagina ficar no sim ou não até acertar a pergunta do que ela está querendo?", diz a filha.
Os cuidados mais minuciosos com a visão só foram estabelecidos no final de 2007, quando Leide sofreu uma úlcera em um dos olhos, ressecados por ficarem abertos muito tempo. "Depois disso, a visão se tornou prioridade", conta.
Com a tabela, Leide passou a escrever poesias. Sessenta delas foram compiladas no livro "Poesias Para me Sentir Viva", publicado em 2008 em edição bilíngue, feita com patrocínios. "Aceitei a doença, mas sofro todos os dias. Hoje sou completamente dependente e aprendi a ter paciência. Não tenho privacidade", analisa.
As responsáveis por transcrever os textos são quatro cuidadoras contratadas, que se revezam 24 horas. Também leem para ela o jornal diário e livros. A primeira poesia, no entanto, foi transcrita pela filha:

"Minha vida vai se esvaindo
não sei se vou chorando ou sorrindo
sorrindo pondo fim a uma agonia que não aguento mais
chorando por deixar para trás pessoas que amo demais."

As funcionárias também "ouvem" broncas quando o trabalho não é feito corretamente. "Tem dia em que a tabela ferve", brinca a filha. Leide não gosta de conversas fúteis entre as cuidadoras.
São elas que também dão o apoio necessário para Leide sair de casa, o que ocorreu quatro vezes desde que surgiu a doença. A primeira foi para lançar o livro, três outras para assistir a shows de Ney Matogrosso e Maria Bethânia.
A operação é complexa, claro: ela vai de ambulância, precisa de autorização médica e de espaço extra para acomodar os aparelhos de respiração.
Entre os novos projetos de Leide, está outro livro de poesias e um documentário sobre sua vida, com lançamento previsto até o final desde ano, produzido pelos filhos.
Todo dia, faz exercícios com fisioterapeuta e fonoaudiólogo. Às 17h, circula pelo apartamento na cadeira de rodas. No resto do tempo, fica na cama. Essa rotina virou poema:

"Num quarto de apartamento
sitiada por fora e por dentro
meu mundo é um vai e vem
das coisas que o quarto contém".

sábado, 27 de março de 2010

O meu coração quebrou-se - Fernando Pessoa

Fernando Pessoa


O meu coração quebrou-se


O meu coração quebrou-se
Como um bocado de vidro
Quis viver e enganou-se...

Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/ined06.html

terça-feira, 23 de março de 2010

Poema triste - Denise

Bom dia, tristeza.
Difícil imaginá-la pior,
A vida se tornou um rio seco,
uma floresta devastada,
Não existe mais o Encontro,
Não existe mais Amor!
Só ficou mágoa, ressentimento e
dor.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Chico Buarque - Gota D'água


GOTA D'ÁGUA

Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta pro desfecho da festa
Por favor
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água

Cântico VI - Cecilia Meireles

Cântico VI - Cecília Meireles

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.

Bem no Fundo - Paulo Leminsk

Bem no Fundo - Paulo Leminsk


No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Quando você pensava que eu não estava olhando


Mary Rita Schilke Korzan escreveu um poema para sua mãe há 24 anos, agradecendo por tudo que ela tinha feito como mãe, amiga e modelo. No seu casamento, o poema foi lido como tributo à sua mãe. Então, muitos convidados do casamento pediram uma cópia. Amigos passaram para outros amigos. Um ministro não conseguia lembrar quem dera para ele, mas incluiu-o como "escritor anônimo" em seu livro sobre amar os outros. Outro autor pegou de lá para a sua compilação de trabalhos, até que Mary finalmente encontrou seu poema, listado como de "Autor Desconhecido". Mary Rita Schilke Korzan é mãe de três filhos e vive em Granger, Indiana, com seu marido.



Quando você pensava que eu não estava olhando

Mary Rita Schilke Korzan

"Quando você pensava que eu não estava olhando, você pendurou meu primeiro desenho na geladeira, e eu quis pintar outro.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você deu comida a um gato perdido, e eu pensei que era bom cuidar de animais.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você fez um bolo de aniversário só para mim, e eu entendi que coisas pequenas eram especiais.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você orou, e eu acreditei que havia um Deus com quem eu sempre podia falar.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você me deu um beijo de boa noite, e eu me senti amado.

Quando você pensava que eu não estava olhando, eu vi lágrimas descendo dos seus olhos, e eu aprendi que às vezes coisas doem – mas que não faz mal chorar.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você sorriu, e me fez querer ficar bonita(o) daquele jeito também.

Quando você pensava que eu não estava olhando, você se importou, e eu quis ser tudo que podia.

Quando você pensava que eu não estava olhando – eu olhava … e queria lhe agradecer por todas aquelas coisas que você fez quando você pensava que eu não estava olhando."

Fonte: http://search.barnesandnoble.com/When-You-Thought-I-Wasnt-Looking/Mary-Korzan/e/9780740741920

Recebi este poema da Cristina Pintaudi e além de achá-lo maravilhoso, ele serve como reflexão tanto para os pais como para os filhos. Para os pais porque é inegável a importância do exemplo. Ele educa muito mais que as palavras. Todos os pais devem pensar nisso. Para os filhos porque, quando crescem, muitas vezes se esquecem que muito do que se tornaram foi porque "olharam" e aprenderam.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

27/01/2010 - Rodrigo Lombardi recita Augusto Branco

Este texto "Vida" correu pela Net como se fosse de Charles Chaplin. É de Augusto Branco. Agora, por favor, me explique. Que roupa é essa do Rodrigo Lombardi? Ou ele pensou que o texto era de Chaplin e se fantasiou? E o choro? Forçou. Fora isso a interpretação ficou legal e o texto é muito bonito.



Vida

Augusto Branco

Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
e esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
já me decepcionei com pessoas
que eu nunca pensei que iriam me decepcionar,
mas também já decepcionei alguém.

Já abracei pra proteger,
já dei risada quando não podia,
fiz amigos eternos,
e amigos que eu nunca mais vi.

Amei e fui amado,
mas também já fui rejeitado,
fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
já vivi de amor e fiz juras eternas,
e quebrei a cara muitas vezes!

Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
já liguei só para escutar uma voz,
me apaixonei por um sorriso,
já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida.
E você também não deveria passar!

Viva!!

Bom mesmo é ir à luta com determinação,
abraçar a vida com paixão,
perder com classe
e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida é "muito" para ser insignificante.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

29/12/2009 - Eterno


Ano acabando e eu precisando me eternizar.
Que pena!
Já compreendi "o sentimento do efêmero."
Tarde demais!
Ou não?
Você pode me ensinar?


Eterno
Carlos Drummond de Andrade

E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
A vida eterna
E o fogo eterno

(Le silence éternel de ces espace infinis m’effraie)

- O que é eterno Yayá Lindinha?
- Ingrato é o amor que te tenho.

Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eterníssimo

A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se flana
Se souber abrir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem o nome.
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto do enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e passageiras as obras
Eterno, mas até quando? É esse marulho em nós de um mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos afundamos.
E tentação e vertigem; e também a pirueta dos ébrios.

Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.

Mas não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma essência
ou nem isso.
E que eu desapareça e fique em chão varrido onde pousou uma sombra
E que não fique no chão nem fique na sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como um esponja no caos
e entre os oceanos de nada
gere um ritmo.

Carlos Drummond de Andrade - Poesia Completa
Fazendeiro do Ar
Editora Nova Aguilar
p. 407-9

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

15/10/2009 - Dia do Professor

As notícias de jornal relatando casos de violência contra o Professor são constantes. Terça feira, dia 13, Ruy Castro definiu bem esta situação na Folha de São Paulo.

Ao mestre, com desprezo
Ruy Castro

"Em março, um professor de história, filho de um amigo meu, foi desacatado em sala por três alunos num colégio em Moema, zona sul de São Paulo. O mestre deu queixa na diretoria. Esta apoiou os desordeiros. O professor pediu demissão e foi para casa, onde teve uma crise nervosa. Passa agora por uma síndrome do pânico. A orientadora da escola, única pessoa a apoiá-lo, foi demitida. Este é um colégio de classe média, em que os alunos se sentem com privilégios pelo fato de pagar altas mensalidades. Mas, nas escolas públicas, a realidade é ainda pior. Mais de cem casos de alunos que desrespeitam professores são relatados diariamente à Secretaria Estadual da Educação de São Paulo por um sistema de registro de ocorrências do gênero. A maioria dos casos vem da região metropolitana de São Paulo. São alunos que desprezam a liturgia da escola, saem da sala sem autorização do professor e o ofendem verbalmente quando ele ousa protestar contra a zorra. Usam toda espécie de aparelho eletrônico durante a aula, de celular a IPod, e, certos da impunidade, destroem equipamentos ou instalações da escola na frente dos colegas e funcionários. Uma das principais diversões é pôr fogo nas lixeiras. É o terror. As escolas cogitam instalar câmeras em suas dependências, para ter provas documentais contra os vândalos e padronizar as informações, o que permitirá estabelecer estratégias de combate à violência. Mas nada impede que os cafajestes -difícil chamá-los de alunos- roubem também as câmeras e riam das estratégias. Os jovens valentões que agrediram o professor em Moema (aliás, com o apoio da classe) foram expulsos do colégio meses depois. Mas não por indisciplina. Deixaram-se apanhar traficando drogas dentro das instalações."


No ano de 1970 dei aula em Centralina -Mg e um aluno da 8ª série do curso noturno do Ensino Fundamental escreveu:

A Despedida

"Delma, o fim do ano está chegando
Vamos de ti separar
A Deus farei uma prece
Pra Ele te ajudar.
Guardarei sua lembrança
Até o fim do mundo
Não esquecerei de você
Nem mesmo um só segundo
Neste fim de ano
Vamos bacharelar
Com uma dor no coração
Vamos de ti separar
..............
A vida é assim mesmo
Temos que conformar
Quando estiveres bem longe
De nós sei que vai lembrar
...................
Termino os meus versinhos
Com a metade do coração
A outra metade ofereço
Para sua recordação" (W.A.G. 01/12/1970)


Na E.E.Bueno Brandão, onde trabalhei até me aposentar, recebi esta cartinha fofa.

Uberlândia, 14/10/83
Para D.Delma

A gente se encontra só uma vez por semana e por isso não podemos ficar mais tempo com uma professora tão legal como a senhora.
Suas aulas são como um doce, quanto mais come mais quer.
Neste dia 15 e em todos os outros eu queria que a senhora fosse muito feliz.
D.Delma, se todas as professoras fossem como a senhora, só não estudaria quem não quisesse. Desejo lhe muita felicidade para todo o sempre.
Da aluna que a adora (I.T.G - 5ª série B)

Cartões, bilhetes, recados com demonstrações de afeto e respeito dos alunos por mim foi a maior recompensa pelos meus 22 anos de magistério. Estão guardados na caixa e no coração.

Parabéns, Professor!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

24/09/2009 - Meus Oito Anos

Alguém enviou um PPs pra Regina que dizia "Acredito, não haver brasileiro, que não tenha lido ou recitado esses famosos versos de Casimiro de Abreu, porém certamente, ninguem o fez como o genial e saudoso ator Paulo Autran: melodia, ritmo, entoação, pausa e emoção inigualáveis....Para apreciar. "
A Regina repassou pra Cristina dizendo "Para minhas amiguinhas prediletas que com certeza recitaram esta velha poesia com um baita laço de fita nos cabelos." (Regina e Cristina Pintaudi são minhas primas)

A Cristina repassou pra mim e como não sei se tem jeito de postar PPs, achei este vídeo no Youtube que achei lindo e divido-o com vocês.