Só alguém como Cony poderia comentar com tanta propriedade e clareza a afirmação de
Elton John em entrevista publicada no dia 19/02/2010.
CARLOS HEITOR CONY -Folha de São Paulo - Ilustrada - 26/02/2009
Jesus era gay? E daí?
DE TEMPOS em tempos, quando ninguém tem mais nada a dizer e os jornais a publicar, desencavam a figura mais problemática da história da humanidade: nada menos que Jesus Cristo. Antes de mais nada, um ser teologicamente composto de duas naturezas, a divina (para os seus crentes) e a humana, para o resto. Não vem ao caso discutir a natureza divina do personagem, pouco entendemos dos deuses, até mesmo a teologia, que deveria entender do assunto, limita-se, no fundo, a esclarecer que o homem jamais entenderá a natureza de Deus, nem entender o próprio Deus em si.
Resta o homem e aí começa a confusão. Há mesmo aqueles que chegam a negar ou a duvidar de que um dia existiu um Jesus de Nazaré, tal como a história mais ou menos moldou, personagem que teria vivido na Judeia, então província do Império Romano, cujo procurador, na época final de sua vida, foi Pôncio Pilatos, sendo Herodes o rei local que, aliás, não mandava nada.
Esse personagem, mesmo limitado à sua natureza humana, dividiria as duas eras em antes e depois dele. Se realmente não existiu, nossa contagem de tempo reside num equívoco que não seria o único da história. Mas, se existiu, é extraordinária a sua importância, mesmo em seu aspecto humano, desprezando-se, para argumentar, a sua essência divina -que fica reservada aos crentes.
É, de longe, o personagem mais estudado e citado na crônica dos homens, a começar que, de estalo, teve diversos biógrafos, sendo quatro deles (Mateus, Lucas, Marcos e João) aceitos mais ou menos como os mais verazes, e, a partir dos quais, criou-se, com a ajuda de Paulo de Tarso, a pedra angular do cristianismo, religião dominante no Ocidente até hoje. Religião que deu um subproduto tão importante como o próprio cristianismo: o catolicismo.
Pelo vigor histórico das duas crenças, o cristianismo e o catolicismo, este último foi estruturado na instituição mais antiga do Ocidente, a Igreja Católica Apostólica Romana, cuja presença na história se confunde, em muitos lances, com a própria história.
De tempos em tempos -como ia dizendo- surgem palpiteiros de diversos quilates ou sem nenhum quilate, que, 21 séculos depois, descobrem a vida íntima desse personagem. Um deles, dando continuidade a lendas surgidas aqui e ali na imensidão do Império Romano, que, afinal, foi destruído por fora pelos bárbaros, por dentro pelo próprio cristianismo. Jesus seria casado ou amasiado com Maria Madalena, gerou filhos cuja estirpe seria confundida com o cálice cheio de sangue "divino", em cuja busca foram criadas lendas paralelas.
Sem nenhuma autoridade, semana passada um cantor pop descobriu que Jesus, entre outras coisas maravilhosas, era gay. Fica difícil conhecer o roteiro de pesquisas que levaram o cantor a tal descoberta.
Limitado em sua natureza humana, Jesus seria um judeu religioso, tendo como norma de sua vida terrena a lei fundamental dos judeus, que passou para os cristãos: os dez mandamentos, entre os quais o sexto, que prega a castidade. A homossexualidade é condenada no Antigo Testamento, e o novo, a partir do próprio Jesus, estendeu a mesma condenação.
O conceito e a prática do homossexualismo é hoje um tema moderno, e os seus praticantes mais radicais procuram retroagir na história, levando para a sua grei um personagem que, mesmo despojado de sua natureza divina, foi, como homem, um seguidor do código mosaico.
Um cantor pop tem o direito de ser analfabeto, comprometendo-se apenas a justificar a sua preferência sexual com exemplos tirados da história. Tarefa inútil, pois muitos dos grandes vultos da crônica humana foram homossexuais assumidos ou não. E daí?
Tendo como base frases isoladas dos evangelhos que falam sobre o amor dos homens, sem qualquer autoridade no campo da erudição, alguns homossexuais como que ainda têm vergonha de serem o que são e apelam para exemplos que ninguém pediu nem se guiou por eles.
Como natureza divina, como creem os cristãos, Jesus não pode ser julgado por conceitos humanos. Como homem, tem interpretadores bem mais capazes e isentos para falar dele.
Elton John em entrevista publicada no dia 19/02/2010.
CARLOS HEITOR CONY -Folha de São Paulo - Ilustrada - 26/02/2009
Jesus era gay? E daí?
DE TEMPOS em tempos, quando ninguém tem mais nada a dizer e os jornais a publicar, desencavam a figura mais problemática da história da humanidade: nada menos que Jesus Cristo. Antes de mais nada, um ser teologicamente composto de duas naturezas, a divina (para os seus crentes) e a humana, para o resto. Não vem ao caso discutir a natureza divina do personagem, pouco entendemos dos deuses, até mesmo a teologia, que deveria entender do assunto, limita-se, no fundo, a esclarecer que o homem jamais entenderá a natureza de Deus, nem entender o próprio Deus em si.
Resta o homem e aí começa a confusão. Há mesmo aqueles que chegam a negar ou a duvidar de que um dia existiu um Jesus de Nazaré, tal como a história mais ou menos moldou, personagem que teria vivido na Judeia, então província do Império Romano, cujo procurador, na época final de sua vida, foi Pôncio Pilatos, sendo Herodes o rei local que, aliás, não mandava nada.
Esse personagem, mesmo limitado à sua natureza humana, dividiria as duas eras em antes e depois dele. Se realmente não existiu, nossa contagem de tempo reside num equívoco que não seria o único da história. Mas, se existiu, é extraordinária a sua importância, mesmo em seu aspecto humano, desprezando-se, para argumentar, a sua essência divina -que fica reservada aos crentes.
É, de longe, o personagem mais estudado e citado na crônica dos homens, a começar que, de estalo, teve diversos biógrafos, sendo quatro deles (Mateus, Lucas, Marcos e João) aceitos mais ou menos como os mais verazes, e, a partir dos quais, criou-se, com a ajuda de Paulo de Tarso, a pedra angular do cristianismo, religião dominante no Ocidente até hoje. Religião que deu um subproduto tão importante como o próprio cristianismo: o catolicismo.
Pelo vigor histórico das duas crenças, o cristianismo e o catolicismo, este último foi estruturado na instituição mais antiga do Ocidente, a Igreja Católica Apostólica Romana, cuja presença na história se confunde, em muitos lances, com a própria história.
De tempos em tempos -como ia dizendo- surgem palpiteiros de diversos quilates ou sem nenhum quilate, que, 21 séculos depois, descobrem a vida íntima desse personagem. Um deles, dando continuidade a lendas surgidas aqui e ali na imensidão do Império Romano, que, afinal, foi destruído por fora pelos bárbaros, por dentro pelo próprio cristianismo. Jesus seria casado ou amasiado com Maria Madalena, gerou filhos cuja estirpe seria confundida com o cálice cheio de sangue "divino", em cuja busca foram criadas lendas paralelas.
Sem nenhuma autoridade, semana passada um cantor pop descobriu que Jesus, entre outras coisas maravilhosas, era gay. Fica difícil conhecer o roteiro de pesquisas que levaram o cantor a tal descoberta.
Limitado em sua natureza humana, Jesus seria um judeu religioso, tendo como norma de sua vida terrena a lei fundamental dos judeus, que passou para os cristãos: os dez mandamentos, entre os quais o sexto, que prega a castidade. A homossexualidade é condenada no Antigo Testamento, e o novo, a partir do próprio Jesus, estendeu a mesma condenação.
O conceito e a prática do homossexualismo é hoje um tema moderno, e os seus praticantes mais radicais procuram retroagir na história, levando para a sua grei um personagem que, mesmo despojado de sua natureza divina, foi, como homem, um seguidor do código mosaico.
Um cantor pop tem o direito de ser analfabeto, comprometendo-se apenas a justificar a sua preferência sexual com exemplos tirados da história. Tarefa inútil, pois muitos dos grandes vultos da crônica humana foram homossexuais assumidos ou não. E daí?
Tendo como base frases isoladas dos evangelhos que falam sobre o amor dos homens, sem qualquer autoridade no campo da erudição, alguns homossexuais como que ainda têm vergonha de serem o que são e apelam para exemplos que ninguém pediu nem se guiou por eles.
Como natureza divina, como creem os cristãos, Jesus não pode ser julgado por conceitos humanos. Como homem, tem interpretadores bem mais capazes e isentos para falar dele.
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