terça-feira, 12 de outubro de 2010

Achadouros – Manoel de Barros

Hoje é o Dia da Criança e no meio da parafernália eletrônica que as crianças irão ganhar, espero que elas ganhem algo com que realmente possam brincar e sonhar. No meu baú de memórias, vendo minha neta tentando pegar a joaninha, lembro de ficar assim no quintal da minha casa tentando desviar o caminho das formigas e imaginando que, quando elas alcançassem o minúsculo buraco na terra, poderiam caminhar até chegar ao Japão. Quebrar os talos das folhas do pé de mandioca em pequenos espaços , puxando para dar o efeito de pedra e fazer inúmeros colares de rainha, de princesa, ou de uma menina rica de “marré deci”, era outro achadouro da minha infância. Ficava horas brincando sozinha com a imaginação correndo solta.

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Bianca “acha” uma joaninha…

Achadouros - Manoel de Barros

Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor.

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Bianca observa a Joaninha que “achou”

Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. Mas o que eu queria dizer sobre o nosso quintal é outra coisa. Aquilo que a negra Pombada, remanescente de escravos do Recife, nos contava.

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Noa, Hugo, Bianca e Lou se preparam para “achar” châtaignes.

Pombada contava aos meninos de Corumbá sobre achadouros. Que eram buracos que os holandeses, na fuga apressada do Brasil, faziam nos seus quintais para esconder suas moedas de ouro, dentro de grandes baús de couro. Os baús ficavam cheios de moedas dentro daqueles buracos.

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Caçada ás châtaignes

Mas eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa.

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Sou hoje um caçador de achadouros de infância. Vou meio dementado e enxada às costas a cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos. Hoje encontrei um baú cheio de punhetas.”( MEMÓRIAS INVENTADAS: A INFÂNCIA - Manoel de Barros Planeta, 40 páginas)

3 comentários:

  1. Delma
    Que lindo a Bianca se encantar com uma joaninha!Quantas crianças não conhecem um quintal!
    Como fomos felizes brincando no quintal de nossa casa ou da avó!
    São lembranças inesquesíveis!
    Bjs
    Regina Bernardes

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  2. Regina
    Respondi a um comentário da Alcy e repito para você. Vcs não imaginam quanto os comentários de vcs me alegram. É uma forma carinhosa de dizer que entenderam minha intenção. Tudo tão simples, mas tão verdadeiros, que só amigos do coração podem entender. Obrigada por lerem, acompanharem e dividirem comigo a amizade de vcs.
    Bjs

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  3. Descobrindo o mundo verde! E os pais se fazem crianças para acompanhá-los. Assim, crescem felizes,seguros, em harmonia!
    Delma, Você sabe que ler o Blog, comentar, trocar idéias é um prazer, além de ser uma maneira de aprender tanta coisa. Somos nós que temos que agradecer a Você pelo compartilhamento, a confiança, a amizade!
    Beijos, Alcy

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