sexta-feira, 28 de agosto de 2009

28/08/09 - "Amores e Mudanças"Contardo Calligaris comenta o filme "Tinha que Ser Você"

Está sendo exibido o filme "Tinha que Ser Você". Ainda não assisti.

Contardo Calligaris, psicanalista escreveu sobre o fime em junho e vou transcrever alguns fragmentos do texto.

"Amores e Mudanças"

"QUANDO A VIDA da gente está emperrada , será que faz sentido esperar que um encontro, um amor, uma paixão se encarreguem de nos dar um novo rumo?....

O amor surge quando está na hora de a gente se transformar ou, então, é por amor que a gente se transforma.

O filme "Tinha que Ser Você", escrito e dirigido por Joel Hopkins, além de ser uma pequena dádiva, oferece uma "dica" preciosa sobre as condições que fazem que um amor "engate". É a história de um encontro ao qual os protagonistas tentam dar uma chance - a chance de transformar suas vidas.

O filme começa nos mostrando que a vida de Harvey é tão emperrada quanto a de Kate. Em ambos, há uma certa decepção por não conseguir (ou não ter conseguido) aventurar-se a viver seus sonhos -ser pianista de jazz para Harvey, e romancista para Kate. Os dois estão sozinhos e conformados com uma certa mediocridade afetiva: Kate se encaminha para ser a filha que cuidará para sempre da velha mãe, e Harvey já desistiu de ser o pai da filha de quem ele se distanciou, muitos anos antes, no divórcio que o separou da mãe dela.
Por que o encontro de Harvey e Kate teria sucesso?

Simples, mas crucial: a conversa deles começa com uma sinceridade quase cínica. A "cantada" inicial de Harvey é o oposto do fazer de conta que é a regra das relações sociais, pois Harvey se apresenta confessando o fracasso de sua vida.
Logo, Harvey e Kate passeiam por Londres discorrendo e se conhecendo. Os espectadores descobrirão se eles saberão dar uma chance ao encontro ou, então, voltarão cada um para seu "conforto".

Aqui, uma recomendação prosaica: se você procura um grande encontro amoroso, sempre use calçados confortáveis, porque nunca se sabe por quantos quilômetros se estenderão suas deambulações amorosas.

O filme de Hopkins, "Tinha que Ser Você", é generoso, porque ele nos deixa com uma sugestão: o diálogo que leva ao amor, que dá a cada um a vontade de se arriscar, não surge da sedução e do charme, mas da coragem de nos apresentarmos por nossas falhas, feridas e perdas. "
(Folha de São Paulo)

Lição de Vida? Pode ser, pois eu penso que a verdade deve prevalecer sempre, doa a quem doer.

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